HELEU e o "dez-encontro"

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SE FOR POR FALTA DE AMOR, ADEUS!


DEIXE O TEMPO RESPONDER MINHA PERGUNTA AO UNIVERSO
DEIXE EM VERSO SEU RECADO COM A SECRETÁRIA-DE-ESTAR
NÃO PERGUNTE SOBRE A MINHA VIDA AGORA E CALE
PRA NÃO MAIS ME PODER FALAR

DEIXE O VENTO TRANSFORMAR MEU PENSAMENTO EM ÁGUA
DEIXE A MÁGOA SE PERDER COM O PASSAR DAS HORAS
NÃO PERGUNTE SOBRE O MEU DESTINO AGORA E CEGUE
PRA NÃO MAIS ME PODER ENXERGAR

DEIXE O JURAMENTO CANCELAR MINHA VISÃO DE HOMEM
DEIXE O PÓLEN SE ESPALHAR COM O PASSAR DO VENTO
NÃO PERGUNTE SOBRE O MEU DESEJO AGORA E PARTA
PRA NÃO MAIS ME PODER VOLTAR

PRA NUNCA MAIS ME PODER FALAR
PRA NUNCA MAIS ME PODER ENXERGAR
PRA NUNCA MAIS ME PODER VOLTAR

PRA NUNCA MAIS EU TER QUE TE OUVIR
PRA NUNCA MAIS VOCÊ TER QUE ME VER
PRA NUNCA MAIS EU TER QUE ME RECEPCIONAR

PORQUE O QUE MAIS QUERO AGORA É TE ENTERRAR
É TUA ALMA CREMAR
E MEU VOCÊ JAMAIS RESSUSCITAR!


João D'Olyveira

HELEU e o "ré-encontro"

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BOCA DE FORNO

Ponto de ônibus.
Clima ameno.
Fim de noite.
Quase madrugada.
Em uma cidadezinha qualquer...

Independentemente de todos os percalços, o clima era de final de brincadeira. Hora de voltar pra casa. Na mente, casos, acasos e ocasiões. Não esperava por ninguém a não ser o transporte (nem ouso dizer o motorista do ônibus, era o ônibus mesmo que eu queria). E este era apenas o elemento funcional naquele momento de minha vida. Na verdade, o que mais desejava naquela hora era relaxar o corpo e a mente. Pudera, havia passado por doze horas de trampo, e corridas. De repente, um grito ecoou noite adentro: "Joooooooooãããão!".

Fosse apenas um grito, seria somente ouvidos. Olhar? Naquele lugar e naquela hora? Jamais! Mas era meu nome que havia sido pronunciado. Por mais comum que seja o meu nome, sabia que era eu a pessoa chamada. Então, a ação era mais que apenas um grito, era um chamado. Um "need to talk to you". Até porque não havia mais ninguém por ali (pelo menos acreditava naquela possibilidade). E sendo assim, nada mais honesto que atender àquele chamado. E o atendi. Alguém gritou: "Boca de forno". Respondi: "Forno!". E assim o foi!

Primeiramente um determinado olhar ao veículo que passara e já se posicionara a uns cinco metros do local onde me encontrava. Quando fixei os olhos, tentando (pelo menos) reconhecer o veículo, ele deslizou suavemente até onde eu estava parado. Diferentemente do grito, agora de forma branda e extremamente carinhosa, fui indagado por uma voz de comando, ainda que dócil: "Faz o que eu mandar?".

Na suavidade do momento, apenas um gesto com a cabeça. Concordei. Porta destravada. Entrei. O boa-noite (ou quase madrugada) foi dito com um beijo. O natural aperto de mãos foi substituido por carícias. Nenhuma fala em um longo e silencioso texto. A partir daquele momento, a brincadeira seria outra. Muito depois, a fala natural: "O que você faz perdido por aqui?".

Não busquei resposta, disse no tapa: "Desejava que alguém me encontrasse". "E esse alguém..." , disse a personagem noturna. "...foi você", completei. Mais um longo beijo. Um abraço de corda de marinheiro. Respirações fortes e localizadas. Risos. Ainda que a estrada insistisse em ser longa, a viagem foi curta. Porém, o suficiente para um diálogo absolutamente pausado, temperado com olhares, carícias, toques...


Ainda que fragmentado, falamos de quase tudo, de quase todos e muito de nós. Contudo, em momento algum me remeti ao passado, até porque passados amorosos devem apenas receber orações de agradecimento. Presente é o que importa, por isso se chama presente. E naquele momento havia recebido um lindo presente: um reencontro. Sendo assim, embora existisse passado, não era passado. Era presente, porque a personagem estava comigo e não apenas em minha mente. Estava comigo, assim como a viagem chegara ao fim.

Ponto de chegada. Hora da despedida. Calaram-se os papos. Outro beijo. Mais um beijo. Um correr de mãos à procura de apoio. Apoio. Um longo abraço. E "tchau!", disse. Foi quando ouvi: "Posso pedir mais uma coisa?" Concordei. Ela insistiu: "Se não a fizer?". Respondi: "Tomo bolo". Ela me olhou, sorriu marotamente e cancelou o pedido. Entendeu perfeitamente a expressão que lhe foi respondida: se não cumprirmos nossas promessas, pagamos por elas. E isto é natural em qualquer situação. É fato. "Se não tem certeza, não prometa!"

E assim foi. Sem promessas de novos encontros, o que me é agradavelmente interessante em qualquer dos meus relacionamentos amorosos. Quiçá fossem em todos! Compromisso é ação de profissionais e não de amantes. Amor, paixão, sexo pertencem a outras áreas, portanto carecem de outras ações.

Sempre concordei que marcar novos encontros significa continuar. Porém, como continuar aquilo que já está completo. Penso assim: "a história deve ser completa no tempo, no espaço e na ação". Novo encontro, portanto, é nova história. E ainda não sei quem serão os novos atores. Sei apenas que depois os escalarei. Caso contrário, serei eternamente dirigido.

Agradeci. Destravei a porta do carro. Sai. Nem olhei para trás. Aliás, nunca olho para trás. Sempre acreditei que (assim fazendo) pudesse me tornar uma estátua de sal. Eu não quero ser estátua. Quero vida em abundância.

Hoje me resta o acaso, que se tornou um caso, em razão de uma ocasião. A imagem ficará em minha mente como um "bom presente". E esse "presente" será lembrado noutros dias, noutros pontos de ônibus, noutras cidade, até que apareçam outras personagens interessantes, para que eu possa compor minha real narrativa, a qual se apresenta em capítulos dários. Até porque o que realmente vale nesta vida são os encontros. Sejam eles quais forem. Seja o encontro com o outro, com os fatos, com a realidade, com as descobertas. O nosso próprio encontro. Este extremamente necessário, para que, no encontro com o outro, possamos ser e estar e não apenas estar. Estar sem ser jamais será completo. Tenho provas disto.


Na mente, apenas a voz a me dizer:
" Boca de forno."
E minha versão criança não inocente a responder:
"Forno!"

João D'Olyveira

HELEU e as "más-caras"

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BAILE DE MÁSCARAS


“Um dia a máscara cai”, disse um sujeito no cume da raiva, referindo-se a outro sujeito, motivado por um descontentamento ocorrido entre eles. Pena, no desequilíbrio linear entre razão e coração, o dito falante não ter podido refletir sobre as muitas máscaras que também faz uso. Se assim agisse, jamais diria tal frase (ou pelo menos saberia como expressá-la), até porque o saber expressar ou omitir esse dizer significa preservar-se de uma fatídica autoacusação.

O que se observa é que “ele” (o dito falante), além de não perceber a máscara que usava enquanto pronunciava tal frase, ignorou uma informação básica, a de que somos uma parte máscara e todas as outras também. Não bastasse, deixou de lado a informação de que, quando apontamos como única a máscara do outro, enganamo-nos, acreditando que somente esse “outro” fosse capaz de fingir, representar. Como se somente esse “outro” enganasse. Nem passou pela cabeça do sujeito falante, que “máscara” é condição social e (por que não) necessidade política.

Importante salientar que, longe de tudo o que é ficção, representação artística, e distante completamente de qualquer ritual, refiro-me, neste momento, às nossas máscaras cotidianas, à personalidade de cada indivíduo (máscara, do grego persona). Para Jung[1], por exemplo, são oito os tipos de personalidade. Os estudos do Eneagrama[2], por sua vez, apontam-nos nove tipos, todos funcionando como uma máscara invisível, uma casca que criamos para nos adaptarmos ao meio social.

Segundo Mário Margutti[3], estudioso em Eneagrama, uma das funções desse estudo “é exatamente a de nos dizer qual é o número da caixa onde nos empacotamos, para que possamos sair da prisão da mecanicidade e despertar o nosso verdadeiro ser, que é consciente e não mecânico”. E completa: “Para despir a máscara, é preciso contrariar os hábitos, vícios e paixões que cada tipo de personalidade adquire desde a primeira infância. Algo que não é nada fácil”.

Sendo assim, como estamos cotidianamente presentes nos mais diversos “bailes de máscaras”, nos quais muitas vezes não somos apenas “convidados”, mas “anfitriões”, que possamos refletir sobre nossos posicionamentos críticos, porque, antes de qualquer análise (quanto mais da alheia), é preciso descortinar nossas próprias prisões. E perceber que somos sócios de inúmeros cárceres (“de carteirinha”), e muitos deles “mascarados” de liberdade absoluta.


João D’Olyveira


[1] Carl Gustav Jung (Kesswil, 26 de julho de 1875 - Küsnacht, 6 de junho de 1961) foi um psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana. Informação obtida em: http://www.geocities.com. Acessado em 6 set.2009.

[2] Sua origem não é conhecida. O que se tem são informações sobre sua aplicação, há mais de 4.000 anos, pelos sumérios, pela fraternidade Sarmaun, por Zoroastro, Pitágoras, e outros. Informação obtida em: http://www.eneagrama.com.br. Acessado em 6 set. 2009.

[3] Mário Margutti é jornalista, ministra Workshops de Simbolismo e por muitos anos atuou como um dos diretores do IDHI ® ®. Citação obtida em O ENIGMA DAS MÁSCARAS - De utensílios ritualísticos à psicologia moderna, a história das máscaras está ligada à própria história do homem, escrito por Natália Klein, em: http://www.rabisco.com.br/56/mascaras.htm. Acessado em 6 set. 2009.

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