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Heleu e o olhar cafeinado



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Hoje de manhã, tomando um café com meu irmão, comentei sobre uma reflexão que tenho amadurecido muito nesses últimos dias: "Arrependo-me muito mais das palavras pronunciadas que do silêncio". E entre um gole e outro de um "extra forte", afirmei: "Das palavras ditas eu até posso me arrepender; do meu silêncio, jamais". No tempo exato desta hipérbole frasal, ele apenas me olhou fixamente, até que decidiu também pelas palavras pronunciadas. Como sempre, em baixo e bom tom: "Fale mais com o olhar, meu irmão", disse ele.

Naquele momento, um sorriso maroto brotou no canto esquerdo dos meus lábios. Pensei sobre o dito e comunguei com meu irmão aquela afirmativa. Sequenciei o prazeroso bate-papo com a seguinte reflexão: "É, meu irmão, tenho feito isso. Os meus olhares têm sido textos proporcionais a cada assunto e até específico a cada ouvinte". Ele me disse algo por meio de um sorriso, que no momento não entendi. Sei apenas que ele não aceitou minha explanação travestida de justificativa. Joguei olhares laterais, percebidos por ele, e elogiamos o café. Típica fuga de conteúdo.

Acontece que não entendo mesmo o "não retorno" para meus olhares, falta-me propriedade para analisar as possíveis falhas de percurso. O prazeroso, todavia, foi ter encontrado respostas que há muito procurava. Meu irmão me olhou surpreso, como a me ensinar esse "jogo de íris". Absorto, continuei minha exposição verbal: "Eu tento falar com olhares..." Ele levantou brandamente o indicador direito, como a licenciar a sequência do papo e, em tom afirmativo, disse que era preciso acertar o alvo dos olhares. "Putz! Devo ter errado muitos alvos, sou estrábico!", disse. Não bastasse, "muitos dos seus desejados ouvintes também podem ser míopes", complementou ele.

Entre risos sonoros, aquele "momento café" encerrou por ali. Sem o som das nossas falas, porque apenas nossos olhares se falaram entre risos, cada olhar com a sua síndrome. No coletivo, os lábios cerrados se elevaram e formaram um sorriso "selfie". De duas coisas agora tenho certeza: se em "boca calada não entra mosca", em olhares residem cobras, lagartos, dragões...ou flores. Afinal, cada um tem o olhar que a própria alma emana. Quanto às palavras, elas apenas representam sintomas da ação desejada. Os gestos as precedem. Então, olhares são textos!


João D'Olyveira  

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