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HELEU e oração da maré mansa



Arquivo Pessoal

"Pode sorrir se quiser 
Eu não vou me incomodar 
Sei que contra a maré 
A gente não pode remar 
Agora sei 
A dor de uma ingratidão 
Mas a maré vai levar 
As mágoas do meu coração [...]" 


(Martinho da Vila & Paulinho da Viola, 1972)


Diga aí, 
que importância você está tendo em minha vida neste momento?
Quer responder ou prefere que eu a responda?
Eu respondo...

- NENHUMA!!!

Estou mesmo é de "saco cheio com as lembranças, 
que infelizmente são somente minhas.
Não nego,
se pudesse podar o tempo,
eu o podaria agora,
sem restrições nem arrependimentos.

Cancelaria também todos os nossos encontros,
ignoraria todos os nossos desencontros,
cancelaria-nos de nós mesmos...assassinaria a linha  reta que nos cruzou.

Todavia,
há lembranças que não desejam desaparecer de vez,
embora haja provas suficientes de que eu as pedi para desaparecerem.
 até em orações ditas,
benditas e malditas.
De resto suplico todos os dias que elas desapareçam do meu mental,
pois sei que do coração é difícil...mas um dia sai...de vez!

Há um gosto externo de desgosto e um desgosto interno de permanência,
um algo de difícil tratamento,
porque é a junção de um querer com um nunca mais querer,
como em Camões.
Aquilo que não mais me interessa está agora amarrado ao que um dia muito me interessou.  

É confuso, 
porque não é concreto.
É concreto porque foi planejado,
em partilhas.

É algo que não se resolve num passe de mágica,
 porque foi cultivado com carinho e não apenas se fez fruto de uma semente jogada ao léu.
Semente plantada,
regada,
cuidada com muito carinho.

A expressão "saco cheio" utilizada anteriormente fez-se oportuna na construção, 
visto que o gozo já se foi sem nunca ter se completado como prazer desejado.
Tudo,
 na verdade,
foi um amontoado de risos e lágrimas,
de aplausos e vaias,
de degustações e vômitos.
Um amontoado de ilusões...um desmanche de almas!

Contudo...
graças às forças do Universo,
esse tudo que sentia  por você já se desnudou com os novos compromissos, 
fazendo brotar  novas esperanças, 

E dentre essas novas esperanças,
a de nunca mais me apaixonar por alguém igual a você,
tão fútil e inconsequente,
tão falsamente inocente,
que ainda insiste num texto repetitivo de "não entendi" o que está acontecendo.
Urg!!!

Ah...e tem mais!!! 

Estou desapegando de tudo de você que está me fazendo mal, 
de tudo de você que está me fazendo sofrer, 
de tudo de você que ainda  se faz adocicado sem o ser.

E sabe como?
É que clarifiquei em meu mental que tudo são apenas falsos açúcares!

Aliás, 
sempre desacreditei de expressões dóceis em demasia,
porque todas elas se apresentam caracterizadas de falsas inocências,
sem pudores,
sem amores,
apenas dissabores.

Não nego,
porém,
que sempre disfarcei aceitá-las, 
porque sempre serei adepto da paz e do amor, 
características que herdei de sábios mestres,
no final dos anos 60,
ativamente vivenciadas nos anos 70 e 80,
adaptadas para o resto do resto do resto da minha agora curta vida.

Eram outros tempos modernos...mente e coração!

Hoje, 
o que mais quero é desapegar daquilo que não tem mais volta,
daquilo que nunca caminhou comigo par a par,
daquilo que apenas me fez servir de via fácil para um trânsito caótico de uma juventude mais caótica,
como a brincar de bumerangue,
num vai e volta desgastante e sem graça.

 Estou cansado da vida em sala de espera,
agendado e não cumprido o horário de atendimento humano,
porque desumano.

Jamais me esquecerei daquele domingo de ramos que se fez dia de finados,
daquela comemoração forçada,
enganosa e ilusória,
do cumprimento que se fez comprimento.
Ô arrependimento de ter aceitado aquele convite!
Sofri tanto aquele dia...

Também, daquele jantar com gosto de ceia venenosa,
daquele sol que não brilhou e apenas me queimava a alma.
Dia triste aquele e outros que me fizeram tão mal,
porque falsos,
obrigados,
forçados ao nada.

Então, 
em nome da nossa liberdade,
você vai me ajudar muito se não aparecer mais em meus pensamentos, 
não forçá-los nos entraves,
nem retorná-los em quaisquer circunstâncias.

É simples:
não apenas faça de conta,
mas assuma que nunca estive presente em sua caminhada,
que  este sujeito determinado simples e oculto nunca nada lhe falou, 
nada lhe fez,
nada lhe propôs,
em nada lhe interferiu.

Em suma:
esqueça-me de vez,
porque eu nunca existi em sua vida e nem você na minha...nunca!

Ser esquecido é dolorido demais,
então não me lembre e nem se lembre em mim,
para que essa dor inexista.

Sem mais para o momento,
agradeço a atenção que me será ofertada,
como uma última gota das lágrimas que derramei por você e que procurarei não mais as derramar.

Nós não nos merecemos,
nem na maré baixa e nem na alta,
isto é fato!

O bom é que "depois da maré baixa sempre tem a maré cheia".

Pode sorrir  (ou rir) se quiser...amém!

João D'Olyveira




HELEU e a porta entreaberta




PORTA ENTREABERTA

Está muito difícil
acordar de manhã e não ter mais você ao meu lado,
mordendo minhas orelhas,
recitando Cecília, Clarice, Pessoa;
cantando Caetano, Chico, Elvis.

Está muito difícil
curtir o bem-te-vi das manhãs na vidraça do quarto,
não ter mais a mesma visão de outrora:
nós e o pássaro,
o cantar do pássaro e o nosso cantar.

Está muito difícil
dobrar a roupa de cama,
recolher o pijama e o lençol,
sentir apenas o meu cheiro no travesseiro.

Está muito difícil,
preparar apenas uma xícara de café,
ladear apenas um prato de sobremesa e um casal de talheres,
omitir o sabor e o aroma prazerosos de outrora.

Está muito difícil
passar mel e requeijão no pão de forma salpicado com castanhas,
espremer as laranjas no liquidificador,
lembrar-me daquela sua sensual lambidinha...no pão e no meu pescoço.

Está muito difícil ouvir Dio come ti amo
que se fez tão nossa,
rodando num vinil postado na velha sonata do armário de ferro,
enquanto nos banhávamos em nossa branca banheira de pés curvados.

Está muito difícil
conviver com esses gritos e gestos tão íntimos, internos e intensos,
assim como aceitar que recordar é viver,
enquanto morro de saudade a cada nova manhã.

Está muito difícil
achar respostas para a sua partida,
que não teve requinte de despedida nem entrega das chaves.

Está muito difícil...


                                                                                                                   João D’Olyveira



"Nosso caso
É uma porta entreaberta [...]
Há um lado carente
Dizendo que sim
E essa vida da gente
Gritando que não..."


(Gonzaguinha)




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