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HELEU e o olhar




Estava à mesa da sala de espera,
olhar fixo no corredor,
literalmente à espera de alguém.
Todavia, nada exigia do tempo,
nada exigia de mim,
nada exigia de ninguém.

De repente um passante,
com uma olhadela curiosa,
seguida de um breve e gratificante sorriso.
Aquilo foi um toque n'alma,
um sacode e acalma sem juízo,
porque uma doce candura fez brotar em mim.

Não hesitei,
e no seco nó da saliva moleca,
correspondi à altura da minha loucura momentânea.
Lancei uma piscadela mansa,
um sorriso de lábios inteiros,
como um menino matreiro,
e fui aos poucos resgatando minha brisa jovial.
Naquele taciturno momento,
tudo se tornou um encanto n'outro canto,
uma elipse terna e eterna,
uma janela indiscreta e sentimental.

E assim foi por longos minutos,
ação repetida a cada nova passadela daquele transeunte naquele corredor.
Determinava-se o tempo que aquele algo desejou e desejava,
frente ao tempo que este algo desejava e desejou.
Até que a espera findou,
o corredor se apagou,
minha memória reacendeu .

E frente àquele olhar fascinante,
diferentemente de todos que até então havia recebido,
dei um passo sobre o pretérito  tão imperfeito e sofrido,
e agarrei-me às crinas daquele presente vivo e sensualmente atrevido.
Afinal, sabia que era um mérito por tantos sentimentos jogados ao vento,
que ao relento me foram meros e amargos erros d'alvo.

Era o que precisava para completar minha noite...oportuno!


                                                                João D'Olyveira

Heleu e o olhar cafeinado



http://www.google.com/imghp?hl=pt-BR

Hoje de manhã, tomando um café com meu irmão, comentei sobre uma reflexão que tenho amadurecido muito nesses últimos dias: "Arrependo-me muito mais das palavras pronunciadas que do silêncio". E entre um gole e outro de um "extra forte", afirmei: "Das palavras ditas eu até posso me arrepender; do meu silêncio, jamais". No tempo exato desta hipérbole frasal, ele apenas me olhou fixamente, até que decidiu também pelas palavras pronunciadas. Como sempre, em baixo e bom tom: "Fale mais com o olhar, meu irmão", disse ele.

Naquele momento, um sorriso maroto brotou no canto esquerdo dos meus lábios. Pensei sobre o dito e comunguei com meu irmão aquela afirmativa. Sequenciei o prazeroso bate-papo com a seguinte reflexão: "É, meu irmão, tenho feito isso. Os meus olhares têm sido textos proporcionais a cada assunto e até específico a cada ouvinte". Ele me disse algo por meio de um sorriso, que no momento não entendi. Sei apenas que ele não aceitou minha explanação travestida de justificativa. Joguei olhares laterais, percebidos por ele, e elogiamos o café. Típica fuga de conteúdo.

Acontece que não entendo mesmo o "não retorno" para meus olhares, falta-me propriedade para analisar as possíveis falhas de percurso. O prazeroso, todavia, foi ter encontrado respostas que há muito procurava. Meu irmão me olhou surpreso, como a me ensinar esse "jogo de íris". Absorto, continuei minha exposição verbal: "Eu tento falar com olhares..." Ele levantou brandamente o indicador direito, como a licenciar a sequência do papo e, em tom afirmativo, disse que era preciso acertar o alvo dos olhares. "Putz! Devo ter errado muitos alvos, sou estrábico!", disse. Não bastasse, "muitos dos seus desejados ouvintes também podem ser míopes", complementou ele.

Entre risos sonoros, aquele "momento café" encerrou por ali. Sem o som das nossas falas, porque apenas nossos olhares se falaram entre risos, cada olhar com a sua síndrome. No coletivo, os lábios cerrados se elevaram e formaram um sorriso "selfie". De duas coisas agora tenho certeza: se em "boca calada não entra mosca", em olhares residem cobras, lagartos, dragões...ou flores. Afinal, cada um tem o olhar que a própria alma emana. Quanto às palavras, elas apenas representam sintomas da ação desejada. Os gestos as precedem. Então, olhares são textos!


João D'Olyveira  

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