www.google/images O PRESENTE DA SAUDADE |
Um
homem corria no tempo. E das três bases temporais, pensava apenas no futuro. Às
vezes ou em muitas raras vezes, uma recordação: um pretérito invasor. O que se
sabe é que ele não curtia o presente que cotidianamente lhe era ofertado. Nos
relacionamentos, fossem eles familiares, sociais, profissionais ou amorosos,
sempre apresentava planos e sobreplanos, tanto que objetivava fazer parte da
cúpula do Planalto Central. Importava-lhe apenas aquilo que deveria ser feito,
visto que o agora feito lhe era nada feito. Afirmava que planejar era preciso,
pois viver não era preciso.
No
tempo concreto, ainda que abstrato, os outros que o ladeavam viviam, porque
presenteavam e se presenteavam. Ele não. O único tempo, o tempo todo,
futurizava-se. E o futuro para ele não era uma astronave que ele poderia
pilotar, era um astro em uma nave: ele e ele próprio. O presente daquele
homem acontecia somente no futuro...do presente.
Em
curso, nos repentes do presente, aqueles que um dia lhe foram tão presentes -
um a um - partiram para um futuro do pretérito. E nesses repentes batia um
sentimento de dúvida, um vazio, um ressentimento...e aquele homem apanhava a
cada batida do tempo. A princípio achou ser a tal saudade, aquela que um
dia, em um passado distante, alguém dos seus havia lhe tentado descrever. A
dúvida era se a saudade era ou era a saudade.
No
conjunto dos saberes adquiridos, ignorava que saudade é reviver o passado em um
presente...no futuro. E por assim ser, o homem não sabia o que, no presente que
sentia, não lhe era tão presente, o que realmente sentia.
Qual
a decepção? A descoberta de não poder sentir saudade, porque não havia vivido o
presente com aqueles que tanto o amavam. E tudo porque saudade é
sentimento de quem realmente viveu presente no presente de alguém. Caso
contrário, não é saudade, apenas arrependimento...que gera lágrimas internas e
dores agudas.
As
lágrimas até tentaram cair, porém, o futuro do presente as congelou em um
pretérito perfeito...
A
ocasião faz refletir as palavras de uma senhora que transitou em minha vida por
quase cinquenta anos. "Tempo presente é presente", dizia ela.
"Então...abra-o, curta-o...agora". Aquela que, com a marca expressiva
de um sorriso, concluía: "Amanhã será jamais"!
João D'Olyveira