HELEU e a próxima parada



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"Ame o seu próximo como a si mesmo."


(Mateus 22:37-39)


Quando se ama de verdade, o acreditar no outro é consequência humana. Além das conhecidas hipérboles românticas que permeiam nossos relacionamentos amorosos, temos o carinho transvestido fraternal, que estabelece parceria com esses relacionamentos. Quando a confiança, como hipérbole necessária àqueles que se relacionam, tempera papos e ações com um tom familiar, sem rever extensões e intensões, tudo se estende e, consequentemente, se esvai quase na mesma proporção. O ato de amar, então, torna-se é um ato de entrega, quase que às cegas, porque produz confiabilidade extrema (outra hipérbole). Se é um erro, pode também ser um acerto que vivenciamos para esse tal amor ganhar terreno e se tornar concreto, ainda que seja, em sua plenitude lúdica, um sentimento abstrato. 

O cruel de um relacionamento amoroso, porém, jamais será a negativa do sentimento, com frases do tipo "não te amo mais", "é melhor a gente dar um tempo", não. O cruel é a mentira praticada em ações cotidianas, muitas vezes descaradas, porque teatrais sem ensaios e direção. Apenas falsas e nada mais. Uma farsa se assim desejar. A cada novo encontro uma mentira. e dentre essas mentiras o sentir e não assumir a "vergonha" de estar com o outro. Fotos e lugares públicos, por exemplo, são registro a serem descartados. Outra é ouvir negativas sobre um parceiro, advindas de "n" direções" (geralmente de 'amigos' em comum) e não defendê-lo, e ainda promover "risinhos" marotos, em descomprometimento pleno. Um afirmar social de que "não é", "não age" e "nem pensa" como esse parceiro. Idiota. "Estava comigo ontem". "Pediu minha opinião". "Conversamos por horas a fio, regados a líquido e a sólido saborosos e de muito seriedade". "Chegamos até a nos abraçar, como se aquele abraço selasse, mais uma vez, nosso relacionamento de fidelidade". Noutras vezes, "tim-tim" com taças de vinho ou jarras de cerveja. "Quanta tirana ironia!"

E para magoar ainda mais, ser preconceituoso sob o próprio preconceito. E isto é pior do que não querer aceitar estar presente no outro. É fingir que tudo está bem. Temperam-se fatos e nunca os correspondem ao que diz acreditar e até defender. São frases do tipo "não tenho nada contra" ou "por mim, tudo bem". Uma ridícula atitude frasal que, quando tomada, posiciona-se totalmente contra, porque quem realmente não é contra a algo está junto a esse algo e não nas suas esquivas e explicações sobre os fatos. Amigos e amores não são sorrateiros para as ações e não mudam curso nem percurso. Amigo rema na mesma direção. E quando faltam remos, usam os braços.

E para arrasar de vez, esses artistas que invadem nossas cenas tendem a estar conosco apenas para manifestar piedade. E nesse tipo de oração piedosa, solicitam proteção, conhecimento e até  doação. O tom de voz muda. Os toques em nossos corpos mudam. Há uma "quase entrega", que se apresenta como sedução dos absurdos  e "abmudos". Quase nada se fala e tudo se diz. E quando pegam em nossas carências, estamos danados. Que pena! O real em tudo isso é que, quando se ama de verdade, perdoa-se até tudo isso, ignora-se cada ação da ignorância que se foi vítima e toca-se o barco à frente. Todavia, quando retomamos o comando, a direção é outra. Por favor e em tempo, em algum momento temos que nos apresentar como comandante, não é?  Afinal, há tempo para apreender e tempo para administrar as aprendizagens adquiridas.

A bússola própria, lembra-se dela? Mente, coração e porta aberta. Só que desta vez em dupla ação: voltar ou partir para nunca mais voltar, ou  enganar o outro, para não se enganar, principalmente por aquele que ama saber que você o ama, o que não é tarefa fácil. A cada discurso, uma revelação. A cada novo convite, um distanciamento aplumado, com direito a justificativas ("não gosto disso", "não gosto daquilo", "isso eu não faço mais"). A cada ausência ou distanciamento paulatino, uma presença assinada de que há prioridades, e de que "você" não está dentre elas. Uma maneira carinhosa de dizer: "Descanse em paz!". No entanto, um reforço entre sorrisos e toques sedutores, como a declarar: "Lembre-se de mim no inventário!"

Na expressão popular, diriam que essas reservas de fala seriam apenas jogos de interesse. E como bons "jogadores, eles não se afastam de vez, porque ainda acreditam nas possibilidades de lucro: móvel, imóvel, capital, social, intelectual. De resto, o sentimento é tão minguado que não alimentará mais o feto que estava por vir, Vale a reflexão de que relacionamentos (até entre os amigáveis) geram fetos, que geram afetos. Afetos que para se desenvolverem precisam de alimentos brotados da alma e não do corpo ou do bolso que cobre o corpo. Em sendo assim, que sejamos felizes sempre, para amar o próximo como amamos esse ex-próximo, que a cada dia se distancia com uma "historinha pra boi dormir" (somos os bois nesses casos).

Estamos cada vez mais maduros, mas o "galho" da árvore da vida ainda insiste em produzir flores a cada primavera. Assim,  vamos caminhando. E alguém nos azucrinando e nos entortando a cabeça. Vai nos botando na boca um gosto amargo de fel. Depois vem chorando desculpas. Pedindo, quando está querendo ganhar de nós um bocado de mel. Contudo, a aprendizagem vai também  se concretizando em nós. E nos vem a lembrança de que todo professor será sempre um eterno aluno. E que um fato não são dois fatos, quando  nosso lado carente diz que sim, e a vida da gente grita que não.

                                                       Ah, essa porta entreaberta...

                                                          Que venha o próximo!


                                                                                                     João D'Olyveira

HELEU e o equilíbrio (ou desequilíbrio) sentimental





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Sinto muito; logo, penso demais!



Enquanto os dias passam devagar ou depressa, nossos incômodos insistem em sobreviver sob luzes diferentes, fazendo com que nos tornemos impotentes para uma série de decisões, incluindo nesse emaranhado de tudo e mais um pouco as "coisas do coração". O que nos parecia resolvido volta à tona sem pedir licença. O denominado simples torna-se agora um ser deveras complicado. As respostas ofertadas, então vistas por nós como eloquentes, apresentam-se como itens quase indecifráveis, exigindo de nós outras respostas, que se tornarão novas questões, e assim sucessivamente. É uma "bola de neve" lançada na lama do pântano dos monstros que nós mesmos criamos. É como se tudo ressuscitasse das cinzas. Um "draculizar-se" em meio a zumbis que nos apavoram, criaturas que vão nos devorando pouco a pouco.


Nesses momentos, se buscarmos a fundo o porquê desse ressuscitar, é possível que possamos encontrar uma "brasinha encapetada", aquela que não se apagou, insistindo em sobreviver do nosso constante sopro humano, o qual ofertamos a "outro", sem querer e até sem perceber. Isto a cada lembrança, a cada imagem desenhada, a cada trago dos nossos estragos orgânicos. Uma espécie de remorso corrosivo que criamos em nossa alma. Um cancro que vai destruindo nossa tão prazerosa "colcha de retalhos". 

Em comparativo livre, podemos dizer que, como normalmente as dores físicas indicam transtornos físicos, os incômodos indicam "dores sentimentais". E todo tipo de dor, seja ela física ou sentimental, carece de merecidos cuidados. No específico, a aprendizagem é que as nossas "dores sentimentais" (ou nossos "incômodos") devem ser tratadas com percepções elevadas, exigindo de nós fórmulas para além da química terrestre. E como há casos e casos, cada qual deverá ser analisado diferentemente. Querer resolver essas questões a partir de uma única fórmula é  mergulhar em águas profundas, sem saber nadar.

Assim, durante esses "incômodos", que possamos iluminar a nossa própria consciência e ampliar nossa visão de mundo. Ouvir o outro e ouvir-se pode (e deve) ser percepção superior necessária. Talvez uma das mais significativas. Um cuidado, porém, é não querer se apresentar sempre como o "filho pródigo" das narrativas, porque essa personagem indica duplo sentido: experiência adquirida ou falta de objetividade. Ela pode ser interpretada, por quem assim desejar, como ausência de determinação e foco. Temos, então, que o "ir" e o "vir" são direitos adquiridos. Já o "saber ir" e o "saber vir" são aprendizagens.

Por essa razão, que os nossos movimentos de "ir e vir" e as nossas pertinentes decisões de "voltar ou não voltar" não sejam ações e reações incômodas, somente busca de solução. O importante mesmo é movimentar o coletivo do nosso ser, porque viver é e sempre será um eterno movimento, seja este progressivo (velocidade positiva), retrógrado (velocidade negativa), acelerado (aumento da velocidade) ou retardado ( diminuição da velocidade).

No dizer do Macaco Simão: "Quem fica parado é poste.". Sendo assim, o importante disso tudo é que os nossos movimentos estejam sempre em equilíbrio com a nossa bússola interna: mente, coração e porta aberta...caso queiramos voltar!


                                                                              João D'Olyveira 



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