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HELEU e a outra estação



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OUTRA ESTAÇÃO


Era uma estranha tarde de um domingo de outono. Olhava fixamente para aquela avenida deserta. Não havia motores nem transeuntes. As árvores pausavam em descanso. Até os pássaros, naquele momento, desistiram de bater as asas. Invertendo as posições, possivelmente estaria sozinho no edifício onde moro. Talvez a única janela aberta fosse a minha. Na janela, um "eu" em busca de um "nós". Entre nós, no horizonte do meu olhar, um trem de carga deu sinal de vida. A buzina do trem e o tocar do sinaleiro interromperam o silêncio que insistia em se alongar. Despertei-me e tudo voltou ao anormal: o trem, os carros, as pessoas, os tais transeuntes. Afinal, normal para mim é o silêncio, o vazio, o oco.

Não tive dúvidas. Dei as costas para a avenida, fechei a janela e carrilhei-me sobre o tapete. Não pertencia àquela realidade que estava para além da minha janela. O aquém agora era o que me importava. A minha realidade era outra, uma suprarrealidade desejada pós-evasão. Uma evasão tão necessária quanto meu oxigênio. Buscava, noutro silêncio, um tempo e um espaço somente meu e do meu eterno amor. Não estava mais em um edifício fincado em uma avenida. Não estava mais em meu quarto. Simplesmente, não mais estava. 

No ínterim, uma voz suave a me chamar. Uma brisa suave e perfumada. Um toque leve e agradável de bem-querer. Não a via, apenas a ouvia. Então, decidi por fechar os olhos, desejando ampliar meus outros sentidos, quando uma linda melodia ganhou meus ouvidos. Sem medo, entreguei-me àquele momento. Nessa entrega, senti um leve toque em minhas mãos, as quais foram conduzidas a um movimento ritmado, assim como todo o meu corpo. Tudo se fez melodia. Tudo estava ritmado. Começamos a bailar. E tudo era tão dócil, tão delicado.

Depois desse bailar, no alongar das horas que não se faziam cronológicas, um também longo e carinhoso beijo em meu rosto. Aos poucos, contudo, aquela cena foi se desfazendo. Cada soma de ingrediente que constituiu a cena foi sendo subtraída dos meus sentidos. Tudo foi esvaecendo, porém, sem lágrimas, sem arrependimento. No jogo matemático do momento, multipliquei a saudade que sempre levarei comigo. E tudo sem dor, apenas prazer; pois, aprendi que somente sente saudade de alguém, quem ainda permanecesse com esse alguém. 

Enquanto me recompunha e atinava-me em outro tempo e em outro espaço, isto porque retorno ao presente sempre será passado, desejei tê-la novamente em meus braços nos dois planos que se apresentavam. Imprescindível a mim seria poder novamente recostar minha cabeça em seu colo, tocar suas mãos, ouvir seu memorável canto e, juntos, sonharmos tantas outras vezes nossos sonhos sempre dourados. E bailarmos repetidas vezes no compasso das nossas melodias preferidas.

Eu sempre me lembrarei da sua despedida. Ela se foi dançando e cantando, como teria que ser. E hoje, com imenso prazer, divido com vocês um de meus tantos sobressaltos, os quais não mais me assustam, apenas me preparam para necessários encontros além-terras, além-mares, além-céus. Opa!  Estou a ouvir a buzina de um trem e o tocar de um sinaleiro. Isto significa que é momento de me encontrar em um cavo, um vão infinito, mais uma vez. Assim, uma vez mais, peço sua bênção, mamãe! Permaneço em ti...


João D'Olyveira





HELEU e a paixão



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A viagem está sendo boa; a companhia, ótima! Tudo está conforme o não planejado. Por exemplo: havia muito tempo que não andava de mãos dadas pelos passeios públicos. Não nego que achei estranho, porém, também não nego que gostei dessa nossa atitude desmensurada. Talvez seja porque... Talvez, não! É fato: os meus "amores" têm sido mais de escortina, o que me impede de expô-los como fato comum do cotidiano.

Ontem demos uma literalmente  "de turistas", com ritual guiado e tudo mais. À noite, curtimos  com os amigos, até altas horas, no bar do hotel. Depois, cada qual pro seu próprio quarto. Hoje de manhã, durante o café, cheguei a gargalhar muito, trocando causos escolares e outros. Que me lembre, meu último gargalho ocorreu no final dos anos 90. É... está lá, perdido numa fotografia, a qual não sei por que ainda mantenho no velho álbum.

Café tomado, um  prazeroso passeio ao horto. Diferentemente do dia anterior, fomos apenas nós dois. Os amigos decidiram por outra atração turística. Juntos, papo-livre e boas lembranças diversificadas. Caminhamos por trilhas, que transformávamos em longas avenidas, tamanha estava sendo a nossa felicidade. Sentíamos-nos em uma viagem somente nossa. Estávamos felizes. Aliás, estamos!

No horto, uma oportuna pausa para admirar a natureza, ouvir o canto dos pássaros vencerem o ruído dos motores. Tudo muito zen! E nós dois juntos naquela selva inserida nas pedras urbanas. De um lado, prédios; do outro, uma mata semifechada. Ao centro, dois apaixonados solidários e não revelados. E como todos os apaixonados, hipérboles insistiam em marcar presença em nossas falas, nossas atitudes. Isto justifica o horto em que estávamos se tornar uma selva, entre tantos outros exageros que ocorrem nesses momentos, os quais somente quem se apaixona pode entender.

De repente, novos movimentos das mãos. As danadinhas foram ganhando vida própria, buscando mais que apenas outras mãos. Bem mais "calientes" que as primeiras pegadas. Não nos repreendemos, até porque não havia um porquê justificado. Carícias, toques, aproximação dos lábios em descontrolada respiração. Tudo foi acontecendo sequencialmente. E tudo nos levou a um longo e saboroso beijo. Enquanto o beijo rolava, os olhos se mantinham serrados, talvez para enxergar melhor o nosso íntimo. As mãos é que ganhavam olhos. Assim, também,  nossas línguas. Como somos um todo, nossos sexos também se beijaram da forma permitida para o local e o momento.

Depois, olhares e sorrisos comprometedores. Embora incompleta, a ação havia sido prazerosa. A respiração mantinha-se rápida e aquecida, provocando risos mais declarados. Nossos sexos apenas "deram um tempo", mas explodiam em nossas intimidades. É... Não havia dúvidas sobre nossos desejos, muito menos arrependimentos. Nesse contexto, aquela fala mansa e desejosa: "Vamos voltar pro hotel?" Sem exitar, a minha maneira de responder nessas horas: "- Humhum..."  E fomos!

Para conhecimento, a viagem continua sendo boa; a companhia cada vez melhor! Passamos a tarde no quarto do hotel, que agora estamos dividindo. Sexo, sexo e sexo. Também, um "lanchinho da hora". Depois do sexo, sempre sinto uma "larica" danada. Neste momento estou na sacada do hotel, observando os transeuntes decididos ou indecisos caminharem pelos passeios da longa alameda calçada de paralelepípedos. Enquanto os observo, traço um "baseado", baseado em algo que não consigo ou não quero entender. Sei lá!  Concreta mesmo, apenas a brisa leve e fria que toma conta da noite. A impressão que tenho é que ela me solicita ser aquecida.

Dou às costas pra rua e olho pela vidraça o interior do quarto. Na cama, um corpo seminu movimentando-se pra lá e pra cá, à procura do melhor encaixe para o tronco, os braços, as pernas. E que pernas!  E aquele bumbum angelical? E a boca? Hummm... Lábios carnudos. Gosto de lábios carnudos. Eu frente a um ser tão cheio de vida, tão jovem, tão belo. Vencido pelo prazer, não resisto e volto pra cama. Sorriso matreiro e pensamento maroto: "Que bom que essa viagem só vai terminar daqui a dois dias!"


João D'Olyveira




HELEU e o outro oculto



"Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher"

Caetano Veloso

O momento sugere 
reconhecer que a vida 
é muito mais ampla do que muitas vezes percebemos.

Comprovadamente, 
nossos limites 
são sempre indevidos.

Erroneamente, 
achamos que nossas opções são restritas.
o que é um ledo engano.

Estamos enganados,
 não devemos ignorar a extensão 
das nossas reais possibilidades.

Colocar na cabeça somente "aquela coisa" e
colocar no coração somente "aquele alguém"
é esquecer que há um redor próprio a ser explorado,
para além daquilo ou daqueles que nos foram valores.

Os valores se tornam ultrapassados:
 "tudo no seu devido tempo".
.
Nesse contexto,
há tempo para chegar e há tempo para partir,
por isso  "não podemos perder tempo".

Logo, 
se tivemos um tempo para ter e não tivemos,
se tivemos um tempo para amar e não amamos,
"perdemos tempo".

Então...

Vamos olhar com mais atenção ao nosso redor,
 para enxergarmos outras possibilidades,
que são portas ou janelas que se abrem para alívio da alma e consolo do coração.

Nesse contexto,
outras "coisas" e outros amores serão muito bem-vindos,
assim como  serão mais uma vez bem-vindos "coisas" desejadas - agora renovadas - e amores - agora "outros".

Já estou com a minha plaquinha no peito: 
PROCURA-SE!

João D'Olyveira


HELEU e o reencontro

Images Google

Uma vez, o escritor estadunidense Richard Bach comentou que não devemos chorar nas despedidas que a vida nos oportuniza, visto que elas constituem formalidades obrigatórias, para que se possa viver uma das mais singulares emoções da vida: o reencontro. Hoje "rolou" comigo essa singularidade emocional, um reencontro com sabor de fruta madura e olhar de cacimba barrenta. Todavia, ainda como um espinho de mandacaru, que gosta de me arranhar. Do reencontro, alguns versos livres deste aprendiz de poeta e eterno prisioneiro do amor. 


Novamente aquele encontro, 
aquele olhar, 
aquele sorriso,
aquele inofensivo pedido de bem-querer,
 que me silenciou. 

Novamente aquele instante, 
aquele desejo, 
aquele toque, 
aquele prazeroso momento de sedução,
que me silenciou.

Novamente o encontro,
você,
nós dois,
dois em um,
um de nós dois e o meu sincero silêncio...novamente.



João D'Olyveira

DESTAQUES DO MÊS