Ilustração: Renato Alarcão
"A escola era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia - uma segunda-feira, do mês de maio - deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar amanhã. Hesitava entre o morro de S. Diogo e o Campo de SantAna, que não era então esse parque atual, construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito, alastrado de lavadeiras, capim e burros soltos. Morro ou campo? Tal era o problema. De repente disse comigo que o melhor era a escola. E guiei para a escola [...]"(CONTO DE ESCOLA, de Machado de Assis).
O
mundo se apresenta tão moderno, no entanto muitas das nossas escolas ainda continuam
sem educação. Nesses espaços (que deveriam ser sagrados), criam-se profissões para "vigiar e
punir", para tolherem aqueles que realmente constituem uma escola: os professores
e os alunos.
O
que deve ser apreendido, é que somente professores professam...ensinam. Quando um administrador escolar
ou qualquer outro profissional que não exerça o cargo de professor (dentro ou fora da escola) começa a ensinar,
antes de ele ser apenas mais um profissional da escola, tornar-se-á um professor.
Aqueles que ocupam a função de professor, todavia não professam,
merecem apenas a aposentadoria. Afinal, somente os profissionais da educação se aposentam. Professores se eternizam!
Acredite,
Professor...
Um dia você se aposentará das escolas, todavia continuará sendo
professor, mesmo sem cadernetas, sem planos de aula...porque terá apenas planos de vida.
Conteúdo de hoje? Vida! Tarefa para amanhã? Mais vida! Na aula de Matemática? Calcular palavras,
antes de fazê-las armas perigosas. Na aula Português, conjugar corpo e alma,
para, na aula de Biologia, saber como alimentá-los.
Há tantas almas passando fome em tantos corpos bem alimentados...
E na aula de Música? Cantar, tocar...e tocar no coração humano. E
por aí vai...nesse real jogo interdisciplinar!
O
professor não está nessa por acaso, porque eles (os alunos) o escolheram para
essa caminhada, assim como o professor também os escolheu. Por essa razão, trate
bem a eles (ambiguidade proposital), e eles certamente o tratarão bem...também.
No final de
cada etapa, meta cumprida, e Vida trabalhada para vidas... uma, duas, três...muitas vidas!
Professor, não reclame do trabalho, agradeça recompensas e salários. Todavia,
com o direito humano de “brigar” por interesses coletivos, desde que continuem sendo humanos...e que a "briga" seja coletiva.
Que essas "brigas" não se apresentem apenas como trampolins partidários ou a-partidários. Que apenas sejam!
Afinal, o árduo tem compensações, e as dores são aprendizagens para curar outras dores. É o veneno da cobra, curando do veneno da cobra.
Dessa
maneira, perceba apenas se você está na escola certa, porque professor não pode errar
a escola. O sofrimento de muitos professores está na escolha errada da profissão...ou da escola.
E
lembre-se de que, no jogo egoísta das profissões, muitas vezes não são
os professores que perdem empregos. São empresas que perdem professores, para apenas montarem quadros com profissionais da educação...sem a presença de professores.
E a
resposta está na avaliação, porque a avaliação nos leva também ao reflexo da escola, e
não apenas ao do aluno ou à própria.
Ou
seja, muito melhor um aluno que evolui na aprendizagem, principalmente de vida,
que aquele que perde o interesse, ainda que tenha sido o melhor.
Da mesma
forma, muito melhor o professor que se percebeu na escola
errada e organizou possibilidades de acerto, que aquele outro...que perdido nas
escolas da vida, só faz reclamar.Tão pouco faz para os outros...e nada
por ele.
Portanto, ser
professor é oportunidade divina, porque a missão do professor é a de preparar
almas.
Corpos? ... espermas e óvulos já o fizeram!
Salve,
Professor! Ou se salve...
Para ler o conto de Machado de Assis: