LEI DE MARTINHO
Luiza, Marina, Cibele. Na Lei de Martinho, “de todas as cores, de várias idades, de muitos amores”. Eu as tive comigo, na minha cama. Algumas vezes em dose dupla, e nada sertanejavam. Só pagodeavam. Juntas, geminianamente unidas no coito e separadas somente no pós-orgasmo. Na mesma cama, na mesma catarse. E como ainda fazem os puros esquimós, ríamos muito!
Diferentemente das outras, em uma tarde de inverno, chegou Marisa. Estava meretrizmente enlouquecida. Literalmente puta da vida! Marisa era assim: sentia-se a própria loja. Fazia propaganda de tudo: das pernas, dos seios, do bumbum. Era pra lá de maluca. Negra maluca de dar inveja a qualquer Miss Universo. E era dona de uma senhora bunda. Digna representante da etnia africana: os Kibundas!
O tempo tomou as rédeas e me apresentou Ivone, que se passava por Margarete. Mascava chiclete e fazia bolas enormes. Adorava estourá-las na hora do beijo. Ela se destituía das peças íntimas cantando "Mamãe eu quero". Dava uns berrinhos pra botar a banca, pois adorava comandar a prática sexual. Dizia-se General de Brigada. Na hora "G", gemia alucinadamente. Beijei muito a boca daquela sacana! Depois, cuspia a goma na latrina.
Cristina era enorme, quase dois metros de altura, dançarina de um cabaret de quinta, que não era avenida. Denominava-se bailarina. Até hoje não entendo a diferença entre dançarina e bailarina, talvez seja o espaço da prática metamorfoseada que ocorre quando se balança alucinadamente o corpo. De resto é tudo "quase" igual! Quando transávamos, tínhamos que estar deitados. É sabido que, na horizontal, a viagem é outra, e a altura não atrapalha. Se na vertical, tiraria apenas um sarro com os joelhos da "mere". E quando ela usava saltos? Eu brincava de esconde-esconde entre as pernas da vadia. Era um tal de some e aparece que não acabava mais. Mas era da porra aquela brincadeira! Aquela mina era tudo...
Maria de Fátima ficou na história, ela foi a própria Eva em pacto com a serpente. Danou-me por completo. Disse-me que estava grávida e que eu era o pai. Não nego que, quando a ouvi me dizer aquilo, e da forma que me disse, tremi nas bases. Pai, naquela altura do campeonato, goraria todos os meus planos. Disse a ela, que ela deveria provar. Ela colocou o dedo indicador na minha cara e urrou vacosamente: "Ou assume ou eu sumo com você!". Decidi eu mesmo sumir, e hoje estou aqui nesta cidade. Ela? Sei lá, deve ter morrido! Era alcoólatra, coitada! O filho? Sei não. Ainda tenho dúvidas se ela estava mesmo grávida. Se tivesse, o filho seria do União São Jorge Esporte Clube, ou da Associação Rio das pedras. Filho da mãe sempre será produto coletivo!
Toninha é que era da hora! Feinha, tadinha... Mas já que falei de futebol, vamos somar. Ela batia um bolão da horinha. Ria debochadamente quando dávamos uns pegas. Um dia me disse pra eu tirar as minhas meias. Eu sempre usei meias pra dormir, sinto frio nos pés. Assim, subo na cama, lembro-me das meias, e não as tiro. Se não estou com elas, calço-as. Sou pé frio, mesmo! Ela adorava cruzar os dedos dos pés dela com os dos meus pés. Mania de quem pensa o dia inteiro nessas sacanagens. Dizem que há especialistas em poses sacanas e provocações bizarras. E eu não as nego. Já vi (e fiz) cada uma...
Eu queria mesmo era rangá-la, mas Toninha cismava com posições, estilos, efeitos. Praticava ioga, a fdp. Certa vez me disse que queria transar no lustre. Pode? Lustre não. Disse que preferia a cama. Daí ela insistiu que fosse embaixo da cama. E foi! Como foi embaixo, transei sem as meias. Outra vez a danadinha encostou-se na porta do quarto de um hotel, e ficou de braços e pernas abertas. Passou a linguona nos beiços, arregalou aqueles olhões de vamp e disse que eu deveria tomar impulso e atacá-la. Como nunca havia recusado nenhum dos pedidos dela, fui. Me senti a própria anta. Dei uma ajeitada no corpo, abri caminho, mirei e ploft! Quando o meu "sem vergonha" se encaixou na "sem vergonha" dela, ela gritou desesperadamente. É que a maçaneta da porta quis também tirar uma casquinha. E tirou! O meu "sem vergonha" em um dos buracos, e a maçaneta no outro. Que fique registrado. Quando transo na cama, não tiro as meias, entendo-as como camisinhas de pés que se sentem mamíferos de carapaça.
Gorete foi legal comigo até o dia que apareceu o Juvenal. O cara era gente boa e tinha pinta de bacana. Trabalhava em uma agência de seguros. Dizia ela que ele segurava bem pacas! Quando o cara decidiu ficar, ela me deixou de vez. Digo "de vez", porque foram várias tentativas de abandono. Da última, antes do Juvenal, ela ficou três dias fora da cidade, e fora de órbita. Bebeu todas e algumas a mais. Uma vez bêbada, a extremista quis dançar a "dança da garrafa". Escorregou, sentou na garrafa, encaixou. Na pressão, a garrafa perdeu o fundilho. Era o fundilho dela contra o fundilho da garrafa. A garrafa perdeu. Fomos ao pronto-socorro local pra desengarrafar o da Gorete. O fundilho dela fez 12 pontos! Gorete era quente pra caramba...
Florinda, na verdade, se chamava Suzana da Silva Mourão. Só o sobrenome já era provocativo. Mas a Flô já havia sido Dolores Cotonete. Se não me engano, um dia se disse Imaculada da Conceição. Eu aceitei apenas a Conceição. Em uma ocasião me levou pra Maceió. Ficamos na casa do irmão dela. Caminhávamos pela Jatiúca quase todos os dias, e por lá rala-rolávamos todas as noites. E de manhã também. Às tardes não poderia ser diferente. Mudávamos apenas os espaços, era na Cruz das Almas, na Ponta Verde, na Pajuçara. E quando cansávamos, transávamos pra descansar. Variávamos a posição. O irmão me perguntou se não sabíamos fazer outra coisa. Disse a ele que outra coisa não, só de outra maneira. Naquele mesmo dia estávamos nós quatro: eu, a Flor, o irmão dela e a cunhada. "Impura" troca de casais. Swing turístico! E não me venha com essa de que eles eram irmãos. Na hora ninguém se lembrou disso. No momento de carícias íntimas, eu a chamava de "Florzinha". E não é que ela acreditava? Guerreira aquela garota...
E tive outras! Madalena (que não era arrependida), Magali Sarraipo, Evinha Pintassilgo, Rita Fusquinha, Vilma Fred das Pedras e Rosilda Samambaia. Mesmo capenga, nesses rolês que a gente dá por aí, conheci umas carnes novas. Nova na embalagem! Por fim, farinha do mesmo saco, alimento pros mesmos cacetes desnaturados! Mudam só o pseudo. É "Pri" de princesa, "Ma" de maleável, "Pat" de patifaria. Tem umas que se dizem "Fa de família", e se casam em igrejas enfeitadas com flores brancas, e têm direito à festa de arregalar os olhos de qualquer pobre cristão. Elas apenas encurtam os nomes, de resto a reza é a mesma. Preferem as ladainhas masculinas. A molecadadinha é que tira proveito dessas pirralhas. Não nego, sinto falta! Dá uma vontade...
Hoje estou mais acomodado. Aliás, acomodadíssimo, diria José Dias! Assisto à TV, independentemente do canal e da programação. De madrugada valem até os evangélicos, que prometem salvação a custo de um carnezinho. E não é que eu estou quase aderindo ao pecúlio gospel? Nessas programações, gosto de quase tudo e me interesso por quase nada. Cansou, teclo o próximo. "Leio o jornal que é de ontem, pois pra mim tanto faz", igual ao Biquini Cavadão. Tomo suco de maracujá, pra alcalmar a cabeça e a cabeça da genitália. E devoro chocolate. Como eu como chocolate! Só dispenso Garoto. Mas, masco torresmos também, sem dó nem piedade. Afinal, já comi muita carne dura e gorda na vida!
Meus pés estão inchados, arregaçam com as minhas meias, que nunca foram inteiras. No modo vivente que estou já adquiri varizes e varicoceles, aos montes. Minha barriga já cresceu 25 cm. E o pior é que só a barriga cresce!
Marcos me ligou, disse que eu devo sair um pouco, tomar sol. Fabiano insistiu pra eu ir com ele e a família (dele) pra roça. Eu preferi ficar por aqui. Gosto do meu cantinho, do meu sofá, da minha TV, da minha próstata inchada. Tomo vodka e cerveja, fumo pra cacete! Vez ou outra ligo pro Vicentini, pro Silvião, pro Morgadinho. E fico contando minhas aventuras amorosas e trepadeiras, e todas na hipérbole. Homem adora dobrar o Cabo da Boa Esperança na hora que fala de mulher. Na verdade, é a esperança de subir o cabo que motiva essas narrativas. Mas... Fazer o quê?
As mulheres se foram, meu bilau também já está quase de partida. E triste, o coitado. Ta se sentindo tão cabisbaixo ultimamente... A cada dia que passa, o Ricardo Asdrubal (é o nome dele) fica mais distante dos meus olhos. E nessa cena cotidiana, já posso afirmar que estou literalmente prostado! Se é assim, hoje confesso o meu saber: "Todo homem um dia terá problemas de próstata!"
Porém, contudo e todavia, alguém muito especial me ensinou a desistir só na hora de desistir, e ainda não é a hora. Sendo assim, lá vou eu, martinhizando por aí... "Procurei, em todas as mulheres a felicidade, mas eu não encontrei, e fiquei na saudade. Foi começando bem, mas tudo teve um fim..."
Porém, contudo e todavia, alguém muito especial me ensinou a desistir só na hora de desistir, e ainda não é a hora. Sendo assim, lá vou eu, martinhizando por aí... "Procurei, em todas as mulheres a felicidade, mas eu não encontrei, e fiquei na saudade. Foi começando bem, mas tudo teve um fim..."
João D'Olyveira
"Há realmente uma relação etimológica entre próstata e prostituta, porque ambas as palavras (a primeira é grego que passou ao latim, e a segunda é só latina) remontam ao mesmo sufixo e ao mesmo radical do indo-europeu.
Vejamos, em primeiro lugar, a etimologia de cada palavra.
Próstata
«[do] lat[im] cien[tífico] prostata 'id.', empr[és]t[imo] gr. prostátēs,ou 'colocado na frente de; donde, chefe, dirigente; protetor, defensor', do v[erbi] proístēmi 'colocar na frente, pôr em relevo, pôr em evidência'; de pró- 'diante, na frente' + hístēmi 'colocar'; assim chamada por situar-se antes da bexiga»
Prostituta
«lat[im] prostitŭo,is,ī,ūtum,ĕre 'colocar diante, expor, apresentar à vista; pôr à venda; mercadejar com a sua eloqüência; prostituir, divulgar, publicar', de pro- 'na frente, diante de' + statuĕre 'pôr, colocar, estabelecer; expor aos olhos', de stātus,us 'repouso, imobilidade; atitude, postura (de um combatente); assento, situação; estado das coisas, modo de ser', do rad[ical] de stātum, sup[i]n[o] de stāre 'estar'»
Por essas e outras, sua existência só acontece em razão do seu masculino!
João D'Olyveira