HELEU e seu homepit




Foto: arquivo pessoal.


BASEADO EM FATOS REAIS


A semana ameaçou um início macabro. Era o primeiro dia de sete dias. Não se previa descanso, apenas labuta intensa. Estrada e pó. Pó e estrada. Estrada e estradas. Contudo, nada me contaminaria para o mal. Até que eu estava “caretasso”, assim, como dizem, nos “customes”. O diferencial igual era que meu “homepit” deveria ser outro. Isto, mais que previsão, era desejo. Joguei a mochila aos ombros e fui para a estrada. 

As mãos sinalizavam companhia gratuita por um bom tempo. “BlaBlacar” era uma boa novidade de mercado, mas a “grana estava curtésima” naquele momento. Daria somente para um "blababla", o "car" ficaria de fora. Naquela estrada, um, dois, três carros. E eu lá, sentado à beira do caminho, como nos anos 70. De repente, uma picape Chevrolet me abençoou na cortesia. Parou. Abriu-me as portas. Eu, sem titubear, entrei. Tirei, desajeitadamente, a mochila das costas e coloquei-a sobre meus pés. Levantei-a com os próprios pés, para ajeitar a carga, e relaxei.

No volante, um sujeito mal-encarado. Eu, na torcida interna, desejando que o interno do sujeito fosse bom. É fato que ele já havia sido bom pela carona, mas isso não significa excluir o "mal-encarado" desta narrativa. Ele mascava algo, sucessivas mascadas, entre olhares sinistros. Usava chapéu de aba larga, jeans e botas com espora. Uma camisa xadrez encardida cobria-lhe o tórax avantajado. Nada agradável, porém, oportuno. 

Uma única fala de entrada foi a minha: “Pode ser?” Da parte do indivíduo, um balançar de cabeça, queixo e cabeça, e nada mais. Uma concordância silenciosa. Depois, apenas o motor do carro e um ronco insistente da minha barriga, o que me incomodava e, certamente, incomodava também o sujeito "mal-encarado". Dava pra perceber a cara dele ziguezagueando com o olhar ora na minha cara ora na minha barriga. Uma dúvida pairava no ar: fome ou gases, ou os dois? Uma coisa era certa, eu precisava que os vapores saíssem por algum orifício, para me aliviar. Contudo, se calhasse pelos fundilhos, a certeza era de que as coisas não iriam cheirar bem.

Nesse longo processo, o melhor mesmo era chegar logo ao destino, mesmo sem ter um destino para chegar. Aliás, eu não acredito em destino. Sou mais crédito em "dez tinos" que em "um destino". Como sempre, questionei-me: “Destino para quê?”. 

Perigo mesmo, naquela hora, eram as valas na estrada. A cada uma, um som mais forte do meu estômago ou do meu intestino. A torcida era pra que não vazasse   pela válvula denominada “anus”, “boga”, “retentor” ou “furico”.  De fato, rolou mesmo uma competição com o motor daquela picape, que quase foi vencido pela minha boga. De repente, uma parada brusca. Ummmaaa freaaaada! 


Sem cinto, nós dois fomos arremessados para o vidro dianteiro, parando a “briza” que ambos iniciaram, visto que um “beck” havia sido aceso por ele e repassado para mim naquele momento. Eu sempre ando “sem mala”, acredito que sempre vou encontrar uma no caminho, como a que me deu a carona naquele dia. E assim foi, com um diferencial: a “chapada” não foi viagem, foi real no para-brisa!

Apaguei o “beck” e guardei a “binguinha”. O cara tinha “boca de piscina”, mas "ela" deu pro gasto. Depois de uma hora, a “binguinha” foi acesa e rolou um “fumacê” na escuridão do ventre paterno. Estávamos ali os três: eu, o cara e o carro. Parados. Um a olhar para o outro e para o infinito da estrada. O terceiro membro não quis “pegar” por nada. Os outros dois desencantaram e decidiram dormir no interior do terceiro. Uma "ménage à trois" necessária. Escureceu e começou a gelar demais. No interior da picape, alguns questionamentos tardios: “Ta de boa?” “ Tô.” “Larica?” “Tô.””Tem ‘bolovinho’?” “Não.” “Você tem cara de “panguão” pra caramba, cara!” “Você, de ‘rato da toca’!”. E começamos a rir.  Éramos todo riso. Mais “erva”, mais “beck”, mais risos, risos e risos. Dormimos rindo.

Acordamos com o sol na cara, e os dois rachando de fome. Ah, não posso me esquecer deste fato! À noite, soltei todos os gases, foi uma “critura” só: natural e intestinal. Lógico que a “marofa” ganhou dos meus gases. Na real? Naquele dia/noite, batemos o carro e a “nave”. E por ali ficamos por mais algumas horas. Não mais que de repente, outra picape pintou na estrada. Não era Chevrolet, mas o cara foi super gente boa. Auxiliou na mecânica, ofereceu água e rango. O rango aceitamos prontamente. “Larica” pura, meu irmão! 

Após os consertos, o sujeito primeiro continuou viagem. Viagem solo, quero dizer. Desentesei de continuar pela mesma direção. O sujeito do segundo episódio iria pra outra,  a que eu, dela, havia vindo. Em sendo assim, decidi voltar para o novo começo. Não raramente faço isso, ou seja, dou um novo tom para minhas idas e vindas. Na real, "descaronei" de um para "caronar"  em outro, para o mesmo lugar que agora era outro, porque era presente. E quando é presente, carece aceitá-lo, não é mesmo?


Depois da primeira vala da volta, questionamentos costumeiros de quem se apresenta por interrogação: “Ta indo para onde? ” “De volta para o fim.” “Como assim? ” “Assim, com você!”  O cara também já tava meio “batido”. Parecia um “gambé” rivalizado, mas não era. “Fogo na vela? ”, disse ele. “Fogo na vela”, concordei. E rimos gostosamente. Um novo “beck” foi aceso, e a estrada ganhou um novo rumo. Se o primeiro só seguiu viagem depois que entrei na picape do segundo, o segundo foi naquele momento em que sai da mesma picape. Que bom que esta não caiu na vala e nem no vacilo! Ufa...

Da minha parte, eu sigo viagem sempre. Não tenho direção igual a tantos direcionados que encontro e reencontro por aí. Deixo sempre acharem que sabem alguma coisa sobre mim, até aquelas que eu mesmo não sei, porque nem sempre são o que parecem ser. 

Há aqueles e aquelas, e aqueles-aquelas que filosofam, "psicaneiam" e os cambau. Acham que acharam uma resposta para o que não tem resposta. Nomeiam-me. Classificam-me. Eu? Finjo acreditar nessas análises e as deleto em trânsito. Na primeira vala, jogo fora. Fato é, que eu me direciono sempre para frente e não para os "outros". Todavia, vou no verso ou no reverso, com direito à prosa limitada, para dar tempo do pensamento anterior ser colocado em prática. Afinal, não sou o "homem de ferro" dos quadrinhos. Sou "redondo", isso sim, personagem de uma narrativa psicológica, que ocupa um espaço mental em um tempo psicológico. Nada de "chronos". 


E pra encerrar o papo, no "frigir dos meus ovos estradeiros", levo fé que direita e esquerda dependem de quem vai ou de quem vem. Contudo, se vou ou venho, decido eu. Sigo sempre fazendo “fumaça”. Quase sempre nas “chivas” alheias. Às vezes até colaboro, da forma que posso, fazendo com que ninguém se sinta solitário. Daí você vai me perguntar: “Nunca mais viu o cara da picape um? “E o cara dois?” Sei lá, devem estar “de boa” por aí, porque quem é “de boa” sempre estará “de boa”. Neste momento, eu estou em outra, cada vez “mais que de boa”, com outros e outras.  Sempre “de boa” com os bons e as boas.  Sem nenhum "bad trip"!



João D’Olyveira




Foto: Arquivo Pessoal.

Música: O Mal é o que sai da boca do homem! - Pepeu Gomes

HELEU e o depois do amor



CULPADOS OU INOCENTES?


O
VENTO

O
MOMENTO

O
SENTIMENTO

O
TORMENTO

EU, VOCÊ  E O DEPOIS DO NOSSO AMOR!


NÓS
JAMAIS 
DEVERÍAMOS 
TER
PERMITIDO 
AQUELE
VOO 
NAQUELE
VENTO

QUANTO MAIS
AQUELE 
SENTIMENTO
NAQUELE 
MOMENTO


ELE SERÁ SEMPRE O NOSSO DEPOIS...NOSSO TORMENTO!



João D'Olyveira


Imagem: Arquivo/googleimages
Música: Marisa Monte/Depois

HELEU e o acaso do porquê do acaso




D2 me disse de primeira, ao tratar da saudade, que "a procura da batida perfeita continua". Ninguém havia me apresentado Marcelo nem seus textos poéticos. Lembro-me de que descobri esse artista e suas composições em uma das minhas navegações noturnas, assim, sem compromisso. Todavia, como nunca acreditei em "acaso", porque sempre acreditei na existência divina dos casos, tenho que o tal encontro foi para me dizer, em poucas palavras e por necessidade momentânea, que o "Criador Mor", na sua perfeição, ao produzir o homem, propositalmente fez a cabeça acima do coração. Neste específico, foi somar minhas loucas deduções à de D2, ou seja, "que o sentimento não ultrapasse a razão", e confirmar o que já me era quase fato: primeiramente, ame-se; depois, ame. Simples assim, porque o simples resolve tudo. Então, como podemos ter observado, nada acontece por acaso, porque o todo da vida soma fragmentos de milagres. A quase cura dos nossos cegos olhos pode nos levar a enxergar homens-árvores. A cura, esta sim nos oferece a claridade dos homens-homens (MC 8, 22-25). Tudo na terrenidade e fora dela tem um porquê. Tudo rs

João D'Olyveira


Imagem: homem-árvore in google/images 

HELEU e a atitude




Em nosso vasto universo de ações cotidianas, tantas dúvidas frente às decisões que aguardam nossas tomadas. Às vezes, a "verdade eloquente"; outras, a "mentira do bem". Um duplo entre sinceridade e falsidade humanas. Acabamos num jogo de sentimentos que nos atormenta. Não responde, porque confunde cada vez mais. São tantos porquês injustificáveis, todavia aceitos em nome do "bom relacionamento". 

Tudo bem, mas e aí? Iniciar ou encerrar algo, um relacionamento por exemplo? Dizer a que veio e o que quer ou calar-se para não magoar alguém? Deixar um determinado ambiente ou apropriar-se dele, em nome do "falso poder" terreno ou divino? Declarar-se ou aceitar a declaração alheia? Dizer "te amo" ou "me esqueça"? Largar quase tudo para ser alguém feliz com quase nada ou ter quase tudo e não se ter harmonia no "lar doce lar", ainda que se esteja bem servido? Somar, dividir, multiplicar ou subtrair, qual a melhor conta ou o melhor resultado aritmético? Trair ou coçar? Amar ou deixar-se ser amado? Questionar ou responder...ou responder por questionamentos? Dizer que está tudo bem e seguir adiante ou refletir sobre esse "tudo bem" antes de avançar os sinais? Parar, retornar ou continuar? 

Então...ter atitude, isto sim é o que nos impulsiona à vida. Essa de anjo e demônio em equilíbrio é pura psicanálise: teoria da alma ("psique")...produção imaginária. E  sobre atitude, Lispector já nos alertou: "é uma pequena coisa que faz uma grande diferença". Sendo assim, vamos deixar de ser novelos e nos tornar um belo suéter, porque regrar o tempo é necessário. É pra pensar!


João D'Olyveira


Imagem: Estátua Abstrata Rosto Humano Pensando - CZ Arts & Statues Factory Outlets.

HELEU e a prioridade






O que eu quero e estabeleço como prioridade versus o que os outros desejam e necessitam de mim neste momento. Este pensar resulta em honestidade própria, para uso coletivo. Neste ínterim, parafraseando um poema musical de Vander Lee, sei apenas que estou relendo minha lida, minha alma, meus amores. Estou revendo minha vida, minha luta, meus valores. Estou podando meu jardim...cuidando bem de mim!



João D'Olyveira





Imagem: Homem esculpindo-se a si mesmo, do artista uruguaio Yandi Luzardo, inspirada no princípio da evolução consciente proposto pela logosofia.

HELEU e a tarde de domingo






Não posso dizer que foi apenas mais um fim de tarde de domingo. Não... Aquele final de tarde de domingo foi muito diferente de tantos outros por mim vividos ou experimentados. A diferença foi tripla: tempo, espaço e personagens. Sem me esquecer, é claro, da posição do narrador-personagem. 

No soprar de uma brisa leve, uma prazerosa memória pediu passagem. Aos poucos foi batendo uma "baita" vontade de ter você comigo. Assim, bem agarradinho, como aqueles bonequinhos da década de 80. Umbigo com umbigo no horizonte. Ah...esse nosso sempre amor amigo! 

Na tela aérea, um pincel divino alaranjou o céu, dando um tom "quase" melancólico à narrativa vivida. Todavia, nenhum desencanto. Em destaque, um velho relógio fabril me olhava fixamente. Ele, esse danado de ponteiros gigantes, registrou cada segundo do meu primeiro pensamento, assim como das minhas revelações mais internas e tão íntimas sobre nós. Cada gesto, cada movimento, cada fragmento daquela plenitude consumada.

No contexto que se consumou, nenhuma dúvida. Todos os meus desejos se tornaram seus em mim, todos. Satisfação, prazer, silêncio... E tudo foi bom pra caramba!


João D'Olyveira

Imagem: Arquivo Pessoal - Prédio da antiga CTI - Companhia Taubaté Industrial - Taubaté-SP-Brasil -Foto: João D'Olyveira

HELEU e o amor covarde



COVA QUE ARDE

Covarde 
não é quem omite o amor, 
mas aquele
que finge amar.



João D'Olyveira

                                   
                                            
Imagem:    https://images.google.com/                                                                                    

HELEU e a presença do outro em nossa vida





A presença do "outro" em nossa vida, um assunto a se pensar seriamente, porque "sozinho" nada somos. No cotidiano desta nossa vida terrena, podemos observar que algumas pessoas sempre recorrem a "outros" para as mais diversas ações. Diferentemente desses, porém, outras fogem, intimidam-se, encavernam-se. Há, ainda, aquelas que, além dessas ações de fuga, por motivos diversos, agridem a tantos outros, apresentando-se como criaturas independentes, fazendo de outros "personae non gratae". Muitas vezes, essas agressões são direcionadas a "outros" a quem elas deveriam ser eternamente agradecidas, pessoas que tanto fizeram, fazem e farão para que elas tenham uma vida mais digna. É triste quando isso ocorre...muito triste!

No universo da comunicação, deparamo-nos com expressões até consideradas simples, isto no tocante à linguagem; todavia, intensas em seus usos, nos mais diversos contextos. Como exemplo dessas expressões, temos: "Não preciso de ninguém", "Quem manda na minha vida sou eu", "Quem 'fulano' pensa que é?", entre outras. Todas elas, neste específico, referindo-se à presença do outro como infortúnio, desprazer, incômodo.

Sobre esses "usos", é importante salientar que, em nossa vida, as ações não ocorrem de forma isolada. Até porque, isoladamente, as coisas não ocorrem. Se um planta, o outro produz. Alguém fornece para outro adquirir. Um é acontecimento; o outro, notícia. Um é a paisagem; o outro, a objetiva. Em síntese: somos atores para um público-alvo. Caso contrário, haverá uma apresentação incompleta.Talvez, nem uma apresentação. É como poder afirmar que, na realidade dos fatos, não existem monólogos. No mínimo, um diálogo "poético" com o nosso "EU" mais profundo ou com um "dEUs" que acredito ou desacredito, denominando-o Criador, Energia, Presença. Algo ou Alguém a quem posso (ou não) creditar a possível eternidade.

E por ser dessa maneira, temos que somente o "ninguém" se faz sozinho, por "ninguém" esse ninguém ser. Já o "alguém" sempre precisará do "outro". Na soma, temos que ser "alguém" deve ser a nossa principal meta terrena, para justificar nossas lutas diárias para a vida...sempre em abundância. Somar, dividir, multiplicar. Subtrair diferenças, credos,preconceitos...bandeiras tantas.

Assim, que estejamos prontos para auxiliar o outro quando o outro precisar. Na mesma proporção, aceitar auxílio do outro em nossas carências. Sempre atento para esta máxima: "A oração somos nós; contudo, o nosso merecimento sempre estará nos outros". Em linhas gerais, não terá valor a oração sem caridade. Afinal, somos lavradores; os outros, campos para serem lavrados por nós. E tudo porque, entre o Deus Universo e nós, a presença do outro em nossa vida foi, é e sempre será uma necessária ponte.

Por fim, uma máxima bíblica: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim". Uma reflexão para todos, independentemente de como vemos esse "pai". E na ausência de uma crença, o possível entendimento de que a atração é uma ação estudada pela Ciência, pois há uma conexão entre a energia, os nossos pensamentos e o mundo da matéria que nos cerca.




João D'Olyveira


Texto de João D'Olyveirainspirado em "Ação da Prece", de "O Espírito da Verdade" - André Luiz, por Francisco Cândido Xavier. 



Imagem: https://images.google.com/

HELEU e a solidão




Sozinho, 
ouvindo "Sozinho", 
vou amando você 
em meus pensamentos. 
Às vezes, 
não nego, 
sinto "peninha" de mim; 
mas,
mesmo assim, 
cuido, 
a distância, 
de quem eu mais desejo: VOCÊ!


                                                     JOÃO D'OLYVEIRA

Imagem: https://images.google.com/

HELEU e a fé




FÉ E PÉ NA ESTRADA 

Se a dúvida o assaltar, 

se a tristeza bater à sua porta, 

se a calúnia o ferir, 

se você se sentir injustiçado, 
mesmo assim, 
erga a cabeça corajosamente e 

contemple um céu iluminado e tranquilo. 

Agora, 

se o seu céu insistir 

em se apresentar recoberto de nuvens 

não tão agradáveis, 

saiba que essas nuvens poderão passar, 

o céu voltar a se abrir, e o sol a brilhar.

Todavia, 

isso somente acontecerá 

se você  exercitar a sua fé, 

que é estabelecer um íntimo diálogo 

com o Universo Criador. 

E sem fórmulas, 

tenha-o como o seu 
melhor amigo.

Siga em frente e persista, 

pois somente assim 

as "nuvens  negativas" da sua existência 

também hão de passar, 
para o  desejado sol da felicidade voltar a brilhar.

Diga "amém" e prepare-se para receber 

suas  merecidas bênçãos. 

Tudo já está lhe sendo encaminhado 
pelo Criador.

(Adaptação livre e fragmentada de Minutos de Sabedoria, de C. T. Pastorino, p.143, por João D'Olyveira)

HELEU e o último telefonema




   
ALÔ, JONAS!

- Jonas, você está bem?
- Fique tranquilo, estou bem!
- Não é melhor você voltar pra casa? Estou aqui, esperando por você...
- Estou bem por aqui. Daqui a pouco as coisas passam, e a gente vai se encontrar. É só uma questão de tempo...
- Eu sei bem disso, mas você jamais passará, Jonas!
- O senhor também não...
- Fico feliz com esse seu carinho. Te amo de montão, ouviu?
- Ouvi, meu amigão! Te amo também!
- Se precisar estarei por aqui; mas, se preciso for, estarei por aí rs
- Tenho certeza disso!
- Cuide-se, Jonas!
- Cuide-se o senhor também! 
- Com Deus...
- Com Deus... Saudade...

Aquele telefonema foi o último de suas vidas terrenas. Jonas não havia revelado ao pai o seu real estado de saúde. A causa da morte física foi infecção generalizada, cinco dias após aquela curta conversa. No dia do telefonema, Jonas estava concluindo a terceira semana de agravamento da doença. E tudo sozinho, calado, porque assim havia desejado. Justamente naquele dia apresentou melhora, talvez para poder se despedir do pai. Coisas da vida e da morte!

Seu pai partiu no sexto dia, orando por Jonas. Talvez até soubesse da partida do filho, por esta razão o volume de oração a ele direcionado. O pai, também, não revelara ao filho que estava doente. Causa da morte: solidão! 

Não desacredito de nada neste Universo, tudo é possível até que não o seja. O relacionamento pais e filhos tem lá seus mistérios (ah, isto tem!), que somente pais e filhos compreendem (ou não!). 

E assim partiram, quase juntos, com o mesmo desejo: "Com Deus...". 

Se eles se encontraram na eternidade, não sei! Se Deus os recebeu ou ainda os receberá, também não! É difícil até pensar sobre isso. São mistérios. Na verdade, preciso até entender melhor essa coisa do "eterno". Sei apenas que, por essas razões, aqueles que se amam jamais deveriam se distanciar um do outro por tempo tão longo. 

Nesse jogo temporal, nada nem ninguém deveria impedir encontros de pessoas que se gostam. Somente elas deveriam decidir sobre seus gostos. E para ausências sentimentais não há justificativas plenas, até porque as presenças não precisam ser, obrigatoriamente, diárias. 

E outra: esperar pela eternidade demora muito e, consequentemente, causa muito dor a quem aguarda o tempo de encontro com o outro que já se foi. Isto se ocorrer, é claro!

Quer saber de uma coisa?

Quem sente saudade não deve fazê-la doer. Deve matá-la! Não é?!


João D'Olyveira



                                                        "O Filho que Eu Quero Ter"
Conhecida pela voz de Chico Buarque, a música é uma composição da famosa parceria entre Toquinho e Vinicius de Moraes, lançada em 1974. A canção surgiu da vontade do primeiro de ter um filho, ideia incentivada pelo segundo.

HELEU e a outra estação



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OUTRA ESTAÇÃO


Era uma estranha tarde de um domingo de outono. Olhava fixamente para aquela avenida deserta. Não havia motores nem transeuntes. As árvores pausavam em descanso. Até os pássaros, naquele momento, desistiram de bater as asas. Invertendo as posições, possivelmente estaria sozinho no edifício onde moro. Talvez a única janela aberta fosse a minha. Na janela, um "eu" em busca de um "nós". Entre nós, no horizonte do meu olhar, um trem de carga deu sinal de vida. A buzina do trem e o tocar do sinaleiro interromperam o silêncio que insistia em se alongar. Despertei-me e tudo voltou ao anormal: o trem, os carros, as pessoas, os tais transeuntes. Afinal, normal para mim é o silêncio, o vazio, o oco.

Não tive dúvidas. Dei as costas para a avenida, fechei a janela e carrilhei-me sobre o tapete. Não pertencia àquela realidade que estava para além da minha janela. O aquém agora era o que me importava. A minha realidade era outra, uma suprarrealidade desejada pós-evasão. Uma evasão tão necessária quanto meu oxigênio. Buscava, noutro silêncio, um tempo e um espaço somente meu e do meu eterno amor. Não estava mais em um edifício fincado em uma avenida. Não estava mais em meu quarto. Simplesmente, não mais estava. 

No ínterim, uma voz suave a me chamar. Uma brisa suave e perfumada. Um toque leve e agradável de bem-querer. Não a via, apenas a ouvia. Então, decidi por fechar os olhos, desejando ampliar meus outros sentidos, quando uma linda melodia ganhou meus ouvidos. Sem medo, entreguei-me àquele momento. Nessa entrega, senti um leve toque em minhas mãos, as quais foram conduzidas a um movimento ritmado, assim como todo o meu corpo. Tudo se fez melodia. Tudo estava ritmado. Começamos a bailar. E tudo era tão dócil, tão delicado.

Depois desse bailar, no alongar das horas que não se faziam cronológicas, um também longo e carinhoso beijo em meu rosto. Aos poucos, contudo, aquela cena foi se desfazendo. Cada soma de ingrediente que constituiu a cena foi sendo subtraída dos meus sentidos. Tudo foi esvaecendo, porém, sem lágrimas, sem arrependimento. No jogo matemático do momento, multipliquei a saudade que sempre levarei comigo. E tudo sem dor, apenas prazer; pois, aprendi que somente sente saudade de alguém, quem ainda permanecesse com esse alguém. 

Enquanto me recompunha e atinava-me em outro tempo e em outro espaço, isto porque retorno ao presente sempre será passado, desejei tê-la novamente em meus braços nos dois planos que se apresentavam. Imprescindível a mim seria poder novamente recostar minha cabeça em seu colo, tocar suas mãos, ouvir seu memorável canto e, juntos, sonharmos tantas outras vezes nossos sonhos sempre dourados. E bailarmos repetidas vezes no compasso das nossas melodias preferidas.

Eu sempre me lembrarei da sua despedida. Ela se foi dançando e cantando, como teria que ser. E hoje, com imenso prazer, divido com vocês um de meus tantos sobressaltos, os quais não mais me assustam, apenas me preparam para necessários encontros além-terras, além-mares, além-céus. Opa!  Estou a ouvir a buzina de um trem e o tocar de um sinaleiro. Isto significa que é momento de me encontrar em um cavo, um vão infinito, mais uma vez. Assim, uma vez mais, peço sua bênção, mamãe! Permaneço em ti...


João D'Olyveira





HELEU e a virgindade





Na minha primeira vez, eu era apenas um moleque curioso e apaixonado. Por esta razão, acreditei fielmente naquela jovem profissional, que me fez protagonista de uma inesquecível descoberta, tão intensa e prazerosa. Lembro-me, em detalhes, do primeiro toque, do corpo em febre, dos lábios sobre os lábios, dos lábios delas sobre minhas vergonhas e dos meus sobre as vergonhas dela. Uma suave e perfumada melodia produzida por nossos órgãos sexuais: nossos concavo e convexo. O melhor de tudo é que nada se fez pela brutal força física, porque os dois buscavam a satisfação. O prazer, sim, este era intenso. E tudo isso me ensinou muito: nada forçado é bom!

O carinho foi recíproco, como deveria ter sido. O depois foi bom. E...depois desse e de outros encontros vieram as namoradinhas. Sentia-me um veterano. Pura ilusão! O tempo nos prova que cada novo encontro será sempre um novo encontro. O que me incomoda mesmo é ver algumas pessoas colocarem sexo em um único recipiente, como coisa má. Sexo é bom, faz bem... Tem que saber equilibrá-lo às outras ações da vida, apenas isto! Nem muito, nem nada rs Com direito à escolha, é claro! Sem com isso "preconceituar". Lembra-se da sua primeira vez? Refiro-me à primeira prazerosa; aquelas que assim não foram, delete-as rs 

Com todo agradecimento e respeito por lições tão profundas, hoje bateu uma boa saudade das minhas professoras sexuais da adolescência. Um brinde a elas! 


 João D'Olyveira


Imagem: https://images.google.com/

HELEU e a paixão



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A viagem está sendo boa; a companhia, ótima! Tudo está conforme o não planejado. Por exemplo: havia muito tempo que não andava de mãos dadas pelos passeios públicos. Não nego que achei estranho, porém, também não nego que gostei dessa nossa atitude desmensurada. Talvez seja porque... Talvez, não! É fato: os meus "amores" têm sido mais de escortina, o que me impede de expô-los como fato comum do cotidiano.

Ontem demos uma literalmente  "de turistas", com ritual guiado e tudo mais. À noite, curtimos  com os amigos, até altas horas, no bar do hotel. Depois, cada qual pro seu próprio quarto. Hoje de manhã, durante o café, cheguei a gargalhar muito, trocando causos escolares e outros. Que me lembre, meu último gargalho ocorreu no final dos anos 90. É... está lá, perdido numa fotografia, a qual não sei por que ainda mantenho no velho álbum.

Café tomado, um  prazeroso passeio ao horto. Diferentemente do dia anterior, fomos apenas nós dois. Os amigos decidiram por outra atração turística. Juntos, papo-livre e boas lembranças diversificadas. Caminhamos por trilhas, que transformávamos em longas avenidas, tamanha estava sendo a nossa felicidade. Sentíamos-nos em uma viagem somente nossa. Estávamos felizes. Aliás, estamos!

No horto, uma oportuna pausa para admirar a natureza, ouvir o canto dos pássaros vencerem o ruído dos motores. Tudo muito zen! E nós dois juntos naquela selva inserida nas pedras urbanas. De um lado, prédios; do outro, uma mata semifechada. Ao centro, dois apaixonados solidários e não revelados. E como todos os apaixonados, hipérboles insistiam em marcar presença em nossas falas, nossas atitudes. Isto justifica o horto em que estávamos se tornar uma selva, entre tantos outros exageros que ocorrem nesses momentos, os quais somente quem se apaixona pode entender.

De repente, novos movimentos das mãos. As danadinhas foram ganhando vida própria, buscando mais que apenas outras mãos. Bem mais "calientes" que as primeiras pegadas. Não nos repreendemos, até porque não havia um porquê justificado. Carícias, toques, aproximação dos lábios em descontrolada respiração. Tudo foi acontecendo sequencialmente. E tudo nos levou a um longo e saboroso beijo. Enquanto o beijo rolava, os olhos se mantinham serrados, talvez para enxergar melhor o nosso íntimo. As mãos é que ganhavam olhos. Assim, também,  nossas línguas. Como somos um todo, nossos sexos também se beijaram da forma permitida para o local e o momento.

Depois, olhares e sorrisos comprometedores. Embora incompleta, a ação havia sido prazerosa. A respiração mantinha-se rápida e aquecida, provocando risos mais declarados. Nossos sexos apenas "deram um tempo", mas explodiam em nossas intimidades. É... Não havia dúvidas sobre nossos desejos, muito menos arrependimentos. Nesse contexto, aquela fala mansa e desejosa: "Vamos voltar pro hotel?" Sem exitar, a minha maneira de responder nessas horas: "- Humhum..."  E fomos!

Para conhecimento, a viagem continua sendo boa; a companhia cada vez melhor! Passamos a tarde no quarto do hotel, que agora estamos dividindo. Sexo, sexo e sexo. Também, um "lanchinho da hora". Depois do sexo, sempre sinto uma "larica" danada. Neste momento estou na sacada do hotel, observando os transeuntes decididos ou indecisos caminharem pelos passeios da longa alameda calçada de paralelepípedos. Enquanto os observo, traço um "baseado", baseado em algo que não consigo ou não quero entender. Sei lá!  Concreta mesmo, apenas a brisa leve e fria que toma conta da noite. A impressão que tenho é que ela me solicita ser aquecida.

Dou às costas pra rua e olho pela vidraça o interior do quarto. Na cama, um corpo seminu movimentando-se pra lá e pra cá, à procura do melhor encaixe para o tronco, os braços, as pernas. E que pernas!  E aquele bumbum angelical? E a boca? Hummm... Lábios carnudos. Gosto de lábios carnudos. Eu frente a um ser tão cheio de vida, tão jovem, tão belo. Vencido pelo prazer, não resisto e volto pra cama. Sorriso matreiro e pensamento maroto: "Que bom que essa viagem só vai terminar daqui a dois dias!"


João D'Olyveira




HELEU e o coração monitorado



I

Nesta manhã tomei um banho demorado. Por longos minutos, até achei que estava sendo meu último banho terreno. Lembrei-me da expressão "vira essa boca pra lá" e segui o caminho das águas. Ao cair da água morna sobre meu corpo, pensava distantemente da realidade em que hoje vivo. Nada do meu presente se fez presente naquele presente "in box". Sem um esforço qualquer, busquei na minha infância os meus mais íntimos momentos de felicidade. O real era que, sob aquele pensar, não rolou uma simples busca, mas um significativo processo de recuperação alimentar "almística". É isto mesmo:"recuperação alimentar almística". Afinal, estarei sempre seguro de que as coisas boas da minha infância me alimentam nessas horas. Elas sempre me foram e serão meus bálsamos. Bem, vamos adiante! Enquanto me banhava e deixava jorrar meu pensamento pueril, concomitantemente, devolvia-me o direito de resgatar frações perdidas da minha felicidade. 

De repente, duas mãos molhadas esfregaram vagarosamente meu rosto, levantando minha cabeleira para trás, a retirar o excesso de água que corria sobre finos fios de cabelo, acortinando sobre meu rosto. Era eu próprio interrompendo meu pensamento, agindo como uma manivela a me devolver à realidade daquela manhã sem sol. Ocorreu um corte preciso entre minha "supra" e minha realidade. À frente dos meus olhos, um registro a fechar. Era preciso dar uma pausa à água e um momento para um "shampoo" e um hidratante cumprirem suas funções. Depois, um "sabonetear" antibacteriano por completo. Tudo deveria ser muito bem lavado, sem exceções. Já havia sido informado de que seriam 24 horas sem banho, para que eu pudesse me submeter aos caprichos de um tal de Holter. Um "sujeitinho mecânico" que, além do mais, exigia que eu, após aquele banho, não fizesse uso de cremes ou loções na região do tórax. Nesta melancólica manhã, minhas ações foram as seguintes: banhei-me, refleti em pretérito quase-perfeito (porque ninguém é perfeito, nem em pensamento rs), aprontei-me minuciosamente para um necessário monitoramento cardíaco.

II

Desde às 9h48min45seg deste dia 29 de fevereiro de 2016 estou sendo monitorado por um dispositivo portátil que pesa cerca de 100 gramas. Ele está acoplado na minha cintura. Devo executar todas as minhas ações regulares para que o referido monitoramento faça sentido. Em silêncio, ele registra meus batimentos cardíacos, detectando alterações ao longo de um período que será de 24 horas. Já me revelaram seu objetivo principal: avaliar as variações do ritmo e da frequência cardíaca da minha máquina chamada coração. Hoje ele dormirá comigo. Já sei de suas "boas intenções". Disse-me um especialista nesses monitores, que ele está comigo para detectar possíveis arritmias ou disritmias. Não bastasse, ainda deseja identificar, em meu coração, umas tais e possíveis isquemias silenciosas. "Quem me conhece, que me compre". Sabem disto: sempre procuro agir em silêncio frente às minhas ações. Todavia, não nego que hoje me preocupam essas tais "isquemias", especificamente por serem silenciosas. Estou na torcida para que o silêncio realmente valha ouro.

III

Estou também pensando seriamente em ir para a cama mais cedo que o de costume. Não sei se é uma boa eu realizar todas as ações como se não percebesse a presença desse tal Holter me espionando. Embora um friozinho ocupe meu dia, decidi por ficar a peito nu. Quero mesmo é deixar bem à vista os eletrodos de contado, que foram aderidos ao meu tórax e conectados a um gravador por meio de cabos. Como os fenômenos naturais estão meio malucos ultimamente, chuva e sol sem controle, torço muito para que não caíam raios por perto. Olho-me o tempo todo como um chamariz ideal para essas quedas. 

IV

A todo momento do dia e até neste momento, o ordem é que eu devo acionar um botão de eventos sempre que apresentar algum sintoma anormal, como "coração acelerado", "tontura", "cansaço". Até o momento, tudo bem! Só o meu pensamento continua voando por aí, sempre para eventos ocorridos em minha infância. De resto, nada que se possa registrar como "anormal". Estou também a fazer uma "viagem de bordo", isto é, um registro de todas as atividades realizadas durante o período de monotorização. Estou anotando todas elas minuciosamente. Os porquês serão me revelados no consultório do meu cardiologista.

V

Exame feito. Monitoramento realizado. Em uma semana saberei o resultado desse processo. Só tenho um "medinho" rondando minha mente, e juro que ele não é nada infantil: "Tomara que esse tal do Holter não revele meu sentimento mais profundo". Até porque ele deverá, em momento oportuno, ser revelado a quem não se chama Holter. E meu desejo é que seja revelado ainda neste plano. Caso contrário, estará bem guardado em meu "coração mental". Agora, cá entre nós, em qualquer situação, como é "chato" ser monitorado!


João D'Olyveira



HELEU e o tempo pedido


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A todo tempo estou solicitando um tempo ao tempo que passa. O tempo, atencioso, sempre me concede o tempo pedido. Todavia, independentemente do meu tempo vivido, o tempo somado ao meu tempo ainda me é um mistério. Por que o tempo solicitado me é concedido? Sem resposta até o tempo presente. Enquanto o tempo passa, ganhando conjugações, Machado sussurra em meu ouvido:"O tempo caleja a sensibilidade". 

João D'Olyveira



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