Heleu e a solidão

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SOLIDÃO

A distância sempre lhe serviu como forte argumento para não estar presente junto aos seus. E foi assim que fez por horas, dias e meses, que somaram anos. Com essa justificativa, cada vez mais se distanciava daqueles que um dia lhe foram tão próximos, até que esse mesmo tempo se incumbiu de lhe fazer esquecido por aqueles e por outros. E no girar do tempo, dizem que as lágrimas do sujeito eram constantes, porém ninguém se fazia presente, nem passado, nem futuro. E foi desse modo que ele somou as parcelas do tempo, até que seus olhinhos amiudados, em uma manhã chuvosa, vasculharam de canto a canto aquela enfermaria. Ele procurava uma tal essência humana, a mesma que recusara há tanto tempo. No leito, todavia, apenas fiapos de uma inexistência coletiva.

João D'Olyveira

HELEU e o momento


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O MACACO TÁ CERTO!


O momento pode ser tanto de alento como de tormento. E se assim, que seja registrado com a devida atenção. Afinal, uma palavra pode se tornar um texto, e dizer tudo. Assim como um longo texto pode nada dizer. Neste momento, por exemplo, penso em alguém especial, desejo esse alguém. Todavia, esse alguém permanece em meu pensamento, que permeia este meu momento que se faz coletivo. Em razão do fato, escrevo mais de uma palavra, não tendo a certeza de estar dizendo o que deveria dizer sobre esse alguém. Na dúvida, a possibilidade da certeza de que apenas o nome desse alguém (uma palavra) poderia ser mais revelador. E que talvez bastasse para o momento. Sem respostas, decido por não oferecer continuidade a esta escrita, visto haver risco de nada dizer ou de dizer aquilo que jamais deveria ser dito. O que se registra é unicamente que o dizer sobre este momento pode ser a melhor solução para momentos vindouros. Se entendido assim, neste momento, recapitulo volteios e nada digo.
                                                                                                    
Como é difícil querer dizer algo em algum momento, o que se acha não poder ser dito em momento algum!

João D'Olyveira 

Heleu e o pecado solitário


Arquivo Master


MASTER

Momento que se permite dividir o nada em quase tudo, para que se possa obter parte desse quase tudo em nada. Um apenas quase no revirar de um nada que se faz tudo. Tudo em nada, unicamente um desejo a distância. Precoce ou não, tudo  e nada nas mãos de um condutor. E nesse tudo e nada idealizado, um solitário pulsar. Os olhos fechados, o contorcer dos membros em puro exercício muscular. Tudo e nada gradativamente calculado pelo desejo de um anjo caído.  De repente, uma erupção de tudo que se faz nada. E tudo escorre entre os dedos, para desaguar prazerosamente em nada ou...em tudo...outra vez!


João D'Olyveira

HELEU e o tempo do homem


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QUERO

Não quero mais correr o risco de perder o tempo,
não quero mais correr o tempo sem a precisão do risco,
não quero mais correr e nem me arriscar. 
Quero apenas reencontrá-lo e retê-lo em meus braços, ainda que por instantes...

De resto, já me arrisquei demais! 

João D'Olyveira

HELEU e o pensamento II


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Hoje levei um tempo enorme pensando em tantas coisas: pessoas, lugares, situações. Depois de tanto pensar, percebi que nada daquilo que  havia pensado, hoje me serviria para o tempo presente; afinal, eram apenas fatos ocorridos e sepultados, embora desejados. Primeiramente, a perplexidade ante os pensares; depois,  um sorriso maroto, porque acabara de descobrir que somente o pensamento me era presente, o qual agora não me é mais. Por fim, levantei-me da velha cadeira e reiniciei a vida presente, nela presente.

                                                                                        
                                                                       João D'Olyveira

O pensamento parece uma coisa a toa,  mas como é que a gente voa, quando começa a pensar [...]

(Felicidade, de Lupicínio Rodrigues)


Heleu e o silêncio


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Ilusão achar que "quem cala consente". Não é bem assim... 

Quem cala, apenas não expõe a fala, ainda que fale e até possa gritar. Perante fatos, o calar pode representar vários sentimentos (e reações) e não apenas consentimento. O calar pode estar vinculado ao medo, à indignação e a tantos outros impedimentos emocionais. Ainda, pode significar respeito e consideração. É isto mesmo! Possível que o outro, frente a algumas atitudes (em muitos casos atiradas medíocres mesmo) permaneça calado porque respeita aquele que no momento "fala". Sendo assim, não quer ofendê-lo, magoá-lo. Noutras vezes, soma-se a esse respeito o respeito a outros que possam estar junto ao falante ou fazer parte dos seus. Não bastasse, muitas vezes o silêncio do outro significa um diálogo que não deve continuar a ser estabelecido. E caberá unicamente ao falante lhe dar ouvidos naquele momento. Portanto, que esse "apenas falante" tire de vez essa mórbida teoria de que o outro está consentindo seus toques, seus beijos, suas carícias...suas "falas".  O outro pode nem mais estar ali. 

Em suma: antes de achar que o outro consentiu, procure ouvi-lo nas atitudes que tomará após o silêncio. É possível que até ocorra aprendizagem frente ao fato e se compreenda melhor o próprio silêncio.

Abraços... 


Em silêncio... João D'Olyveira

HELEU e as palavras

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PALAVRAS

Palavras
que lavras
com larvas
não são palavras.

São P A L A R V A S !!!

João D'Olyveira

HELEU e a saudade II




O QUE ME IMPORTA?

Não me importa a distância,
o que me importa é você.
Não me importa a saudade,
o que me importa é você.
Não me importa essa porta,
se essa porta me levar a quem me importa...VOCÊ!!!

João D'Olyveira

HELEU e o Bosque da Princesa

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A CURVA E O RIO

NA CURVA DO RIO,
A VIDA.

NA CURVA DO RIO,
A HISTÓRIA.

NA CURVA DO RIO,
O BOSQUE.

NA CURVA DO RIO,
O MEDO DE QUE A HISTÓRIA VIVA DE UM BOSQUE SEJA INTERROMPIDA.

NA CURVA DO RIO,
O PEDIDO PARA QUE O MEDO SEJA BANIDO,
O BOSQUE SEJA PRESERVADO,
A HISTÓRIA SEJA RECONTADA.

NA CURVA DO RIO DO BOSQUE DA PRINCESA,
O PEDIDO PARA QUE A VIDA
DO RIO,
DO BOSQUE
E DOS HOMENS DESTA TERRA
SEJAM ETERNAMENTE ETERNA.


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João D’Olyveira

Junho/2008 - Uma homenagem ecológica a Pindamonhangaba-SP, Terra que me acolheu, como profissional, por aproximadamente doze anos.

HELEU e o pensamento

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"Hoje preciso de você
Com qualquer humor
Com qualquer sorriso
Hoje só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje [...]"


(Jota Quest)


Só Hoje II

Hoje pensei em você,
que em você não deveria pensar;
não deveria confiar;
apostar;
acreditar.

Hoje pensei em você,
que por você não deveria penar;
não deveria chorar;
agonizar;
nada creditar.

Todavia,
pareceu-me que algo eu devia;
e que, portanto,
deveria saber o que devia ser.
Não consegui,
comecei a pensar...e pensei!

Como pensei em você!

E tudo porque não consigo separar o concreto do abstrato;
o corpo da alma;
a água do fogo;
o prazer do tesão;
a pressa da calma;
o amor da paixão...

É difícil!

Sei que apenas sinto e desejo você,
assim como também sei que isto me maltrata;
que isto me machuca;
me amordaça...me lasca!

Contudo,
eu sempre acho que tudo isso passa;
que tudo é apenas meu achar.
Que nada me modifica,
nem solidifica,
nem passa,
nem fica...

E isso tudo me basta!

Hoje desejei mais uma vez não pensar em você;
desejei esquecê-la de vez;
e de vez enterrar esse sentimento caduco...

Entretanto,
malucamente,
em minha mente,
como serpente em seu ninho,
você insistiu em ficar.
E do meu lado,
aninhado,
você quis ressuscitar...e ressuscitou!

Naquele momento.
em tormento,
juro!
No escuro da mente,
convivi com a sorte e com a morte,
e desejei o duplo da rima.

Não nego,
de vez em quando e quase sempre me pego pensando,
pensando,
pensando...

E se penso é porque devo; 
e se devo,
pago...

Então,
 penso!

Hoje mais uma vez pensei em você...

Alguns me olharam,
outros me alertaram,
muitos me condenaram...

E que se dane aqueles que condenam meu pensar;
parem eles de pensar em mim,
e que pensem mais em si.

Porque... hoje,
mais uma vez...pensei em você!

                                                                                                                          João D'Olyveira








HELEU e a amizade


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AMIGOS SÃO PIPAS


Quando se faz um amigo, felicidade. Quando um amigo se torna seu inimigo, falsidade. Neste caso, a felicidade oferecida a você não era verdadeira. Tudo bem, mas como evitar essa falsidade? Alicerçando a amizade, antes de lhe oferecer pouso.   Também, medindo os abraços recebidos e ofertados, antes de carregá-la em seus próprios braços. E dialogando na medida, antes de falar-lhe ao pé do ouvido as suas intimidades. Em suma, equilibrando-se em todos os sentidos.

A construção da amizade  pode ser comparada ao "empinar pipa". Devo observar o tempo, o vento. Oferecer gradativamente a linha, para percebê-la vinculada à minha vontade, aos meus desejos, ainda que distante de mim. E aceitar que lá em cima ela possa pensar de forma semelhante: "Aquele que me oferece a linha não é meu dono, não me controla. Sabe me deixar livre, sem necessariamente me deixar solta". Por fim,  recolhê-la a cada enrolar da linha, aos poucos, sem pressa. Pura atração. A "pipa" que retornar sempre esteve com você; aquela que partir ao vento nunca lhe foi plena. Assim, melhor partir antes da falsidade ofertada em papel de seda.


NÃO COLECIONE PIPAS, OFEREÇA A ELAS A POSSIBILIDADE DE VOAR! 


                                                                 João D'Olyveira

HELEU e as circunstâncias das horas

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Vitória-régia

O horário, o local, as reais personagens, nada agora importa. Nada nos importa que entre por esta porta. Importa-nos o furor da narrativa, apenas isto! 

As circunstâncias das horas provocam reações, é o novo que surge e ressurge de novo, e novamente. E esse novo aparece como marca d'água, portanto gera sobressalências. E não há como omiti-las. Se masculinizadas, bem mais!  Pena que em processo rápido. Pena que em ocasião não libriana. Pena que sem diálogo no depois...

Nessas ocasiões, a mágoa é algo normal, ainda que anormal. Afinal, o prazer é reação dupla: um dá a largada, o outro autoriza a jogada. Na reação, mãos se tornam bússolas, e buscam direções. O alvo não é tão alvo, porque subjetivo. Dessa forma, vale-nos a sensação do prazer. O límpido gozo paulatino. Não se corre, não se escorre. Ele se faz!

Tudo parece "trans-correr" normal nessa anormalidade. Poucas são as reações "quase contrárias", ou nenhuma reação. O silêncio fala. As mãos falam. O corpo fala. Cada movimento se traduz em um enunciado linguístico mental. É o tal não-verbal que entra em cena. Se filmada, que cena! E tudo gera um gosto de "quero mais", de "quando estaremos juntos novamente", de...deixa pra lá!

Não exijo fidelidade para essas ocasiões (nem para as próximas). Fidelidade, enquanto relacionamento, não. Fidelidade participativa, sim! Não há como negar a importância do outro em nossa vida. Estar sozinho é completamente diferente de estar solitário. E nos encontros, quanto mais nos íntimos, fidelidade significa governo. E não compare a Fidel, por favor! Digo fidelidade no sentido de parceria. Quero estar com você, ou não? Quero "jogar" com você, ou não? Quero ou não quero, e ponto-final. Fidelidade é  a intimidade de um em outro, em única ação.

É cruel dividir momentos de prazer a dois e se responsabilizar pela culpa do outro. Se desta maneira, afirmo ser maldade. Pura sacanagem. Se não queria, por que não criou impedimentos? A mesma mão que se calou poderia ter falado à beça (ou à bessa, como queira). Os suspiros de prazer poderiam ter sido substituídos por expressões do tipo "que saco", ou qualquer outra ação (verbal ou não-verbal) significativa ao desagrado do momento. 

Se calado e prazeroso, isto é puro aceite. Não há nada mais "puto" que discursar que se sentiu indefeso, que não disse nada porque não queria magoar. "Orra!" Se realmente não queria e se sabia que esse exercício duplo iria te magoar, por que não impediu sua mágoa? Por que não quis magoar o outro e preferiu se magoar? Martírio? Chega de mártires, queremos homens de bem. Mártires são aberrações que colocam em nossas cabeças. Com licença, mas é difícil entender e aceitar esse discurso. Não estou negando possíveis "verdades", apenas desacredito que essa seja "uma verdade". Apenas isto. E isto é tudo!

Se nada disso poderia ter sido impedido (ou não se desejou que assim o fosse), o que se requer para a pós-ação é compreensão. Um momento para, pelo menos, justificar a ousadia melódica da bússola humana. A mão que "balança o berço" é a mão que possuia um berço para poder balançar. O diálogo (mesmo na ação não-verbal) é ação a dois. É um dar e receber ao mesmo tempo, e no mesmo espaço. O prazer é que  nos transporta para outro tempo e para outro espaço...ainda em diálogo!

E esta postura em palavras, sobre os nossos atos e a sua omissão, não é arrependimento, não. Aliás, não devemos nos arrepender daquilo que nos faz bem, porque nos foi bom.O que não se pode é comprometer o outro com o silêncio, a fuga. Criar meandros inoportunos é mentir ao outro e ao próprio. No mote, o outro lhe ofereceu prazer, ainda que a recusa e o arrependimento tenham lhe "batido à porta". No fundo (ainda que raso) o tempo nos ofereceu lá seus bons prazeres. Discorda desta afirmativa?

Assim...se quiser aparecer, apareça. E quando aparecido, pode ficar. Até já sinto saudade, porque foi muito bom durante. Não ousaria dizer depois, porque realmente não está sendo. Prazer cortado é "oda"!  Este depois está sendo sofrido. Silêncio doi pra cacete! E em nome dessa felicidade que deveria ser contínua, por favor, reveja posturas. Apareça!

O ser humano deve aprender a lidar com o tempo presente, que possui este nome porque assim o é. O que oferecemos ao outro é presente. Ninguém deveria sair por aí ofertando pretéritos, a não ser aqueles que insistem em acentuar o negativo nos presentes dados e recebidos. Esses são crueis, lúciferes enjaulados em corpos humanos. Acreditam que caridade se oferece em quilos, nas sórdidas campanhas em prol de estômagos famintos de matéria. Não. Caridade é ato de saber oferecer e não pedir de volta. Arrepender-se de um ato que se tornou fato é claramente um pedido de volta à ação ofertada. E isto é "oda"!

De resto, foi bom pra caramba!!! Porém, um treino...

A partida foi cancelada, e precisa ser "re-agendada"!

João D'Olyveira

Heleu e o desejo

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SOMBRAS

Nas inconstâncias dos bares,
em outros lugares,
com outros pilares,
desejei você...

Nas encostas do sonho,
de modo enfadonho,
com outros pudores,
desejei você...

No desconforto das horas,
rompendo auroras,
 nosso aborto aconteceu,
quando pude sentir seu corpo no meu...

No tempo que nos restou,
você emudeceu a voz,
e como em um deserto,
tão perto e distante do eu do nós!

Mas foi na aurora,
que eu te beijei,
que senti o teu cheiro,
que gostei...

João D'Olyveira

Heleu e o Natal



MAIS UMA VEZ NATAL!!!


Mais uma vez Natal,
renascer do Salvador,
eterna busca do ser,
da paz e do amor.

Mais uma vez Natal,
presentes e consciências,
desejos revelados,
famílias e ausências.

Mais uma vez Natal,
momento de agradecer,
equilíbrio cotidiano,
dar e receber.

Mais uma vez Natal,
espera de um encontro,
sonhos e esperanças,
tantos desencontros.

Mais uma vez Natal,
Mais uma vez Você,
Mais uma vez Natal...sem Você.

FELIZ NATAL!!!

João D'Olyveira


HELEU e o momento certo


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Uma constante é constantemente querer acertar, 
ainda que o alvo esteja distante,
que o alvo não esteja alvo,
o alvo não seja algo,
não seja alvo,
não seja...

É assim o tempo todo,
o tempo todo
todo tempo...

E nesse tempo todo,
nesse todo tempo, 
percebemos que o tempo é incerto,
que o tempo é momento,
que o momento é certo,
 porque parte dessa incerteza...

Apreendemos que,
 para acertar o alvo,
 é necessário estar no momento certo,
ainda que em duvidoso tempo!

Sem tempo, sem tempo, sem tempo...

João D'Olyveira

Heleu e o futuro do subjuntivo



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SE

Se um dia não mais chorar de saudade
Se a minha vida ganhar outra direção
Se não mais pronunciar seu nome
Acredite
Tudo foi em vão!

Se um dia não mais contar suas histórias
Se a minha vida ganhar outra narração
Se não mais pedir sua presença
Acredite
Tudo foi em vão!

Se um dia não mais expuser suas fotografias
Se a minha vida ganhar outra revelação
Se não mais querer te ver
Acredite
Tudo foi em vão!

Afinal...

Você é a direção que aprendi seguir
A narração que decidi participar
A revelação que preferi permanecer

Então...

Choro de saudade
Conto nossas histórias
Exponho suas fotografias...

E acredite
Tudo é verdade!
Tudo é glória!
Tudo é alegria!

Acredite
Nada foi em vão!

João D’Olyveira

HELEU e a paixão


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Hoje estou aqui para pedir perdão, essencialmente àqueles por quem me apaixonei. E vinculado a esse perdão, o meu “muito obrigado”. Afinal, ainda que me sinta culpado, não posso negar que foram ótimas essas paixões. Como faz bem ao homem se apaixonar!

Quando nos apaixonamos, eliminamos uma série de fatos: a classe social, os saberes, a faixa etária. Eliminamos até nossos gostos, porque o gosto maior é o outro por quem estamos apaixonados. E tudo isso não só parece "coisa de doido", como é doideira mesmo. Apaixonar-se não é coisa "normal". É anormalidade necessária para outros sentimentos humanos!

E nesse momento denominado "apaixonite aguda", que é totalmente avassalador, cometemos nossas sagradas hipérboles, quando tudo se torna  "demais". Presenteamos demais, contatamos demais, oferecemos demais, entregamo-nos demais. E "demais", como todos sabemos, significa estar fora da medida. Assim, tudo o que é "demais" não é bom! O "demais" oferecido hoje, com certeza, faltará amanhã. É sacro! Não bastasse, o que fica fora da medida tende a se tornar trágico. Os dramaturgos que o digam. E salve Dionísio!

Na fase da paixão, nossos olhos se arregalam em demasia, e a necessidade do toque se torna essencial. As mãos ganham vida própria, querem alcançar de qualquer maneira o outro. Os olhos devoram, e as mãos temperam a "vítima". Tudo tagarela no ser apaixonado. Os poros..."esporam"!

E na vassalagem das cenas, criamos situações, propomos encontros.Usamos de todos os recursos, dos manuais aos eletrônicos. Muitas vezes oferecemos (e nos oferecemos) ao outro até o que não temos (ou o que nunca nos ofertamos). E vamos por aí, nos arranjos e desarranjos da vida. 


Há casos de apaixonados que se esquecem d'outros que lhe são pessoas extremamente significativas. E sabe por quê? Porque não mais os vê. É a comprovação de que a paixão pode cegar o ser apaixonado. Ele, então, se tornará unilateral. Ou será "unifrontal"? O que sabemos é que, dentre tantos "outros", apenas um deve ser visto naquele momento desmedido: o "meu outro"! E tudo porque a agenda se faz além das vinte e quatro horas diárias...

Quando nos apaixonamos (ainda que não me proponha a "aurelializar" vocábulos),  é interessante observar nossos sentimentos e as suas consequentes diferenças, desde a formação da palavra até os sentidos por elas expressos. Leitura plena. Neste caso, o significativo “amor” e a danada “paixão”. Percebam! O primeiro é substantivo masculino (que, certamente, deve agir como a espécie masculina). O segundo, feminino. Estamos entendidos? Por favor, nada de preconceito, apenas conceitos! 

Dio Mio!  Oh My God! Mon Dieu! Quer dizer que...paixão é um caso feminino? Sinto desapontá-los, mas a resposta pode ser sim. Vejam. No comparativo, é possível afirmar que o ser apaixonado age como mulher e não como homem. E ainda salientar diferenças abstratas e concretas que possam somar a essa possibilidade. Por exemplo. Paixão é poesia. Amor é poema. Expressão do sentimento e estrutura, respectivamente. 


Além do "fogo que arde sem se ver", da "ferida que dói e não se sente" e do "contentamento descontente", o ser apaixonado usa muito mais da sensibilidade e cada vez menos da fidelidade própria. É isto mesmo! Quando nos apaixonamos, conseguimos somente ver "o outro". Tudo o que fazemos por nós é pelo "outro". É só "vosso reino". "Venha a nós", quase nada. Ou nada mesmo!

Não nego, demorei demais para perceber o feminino da paixão e o masculino do amor. Antes, tudo me parecia tão igual. No cotidiano das prosas, dizia "estou apaixonado", como se dissesse "estou amando alguém". Noutros momentos, especificamente junto à pessoa amada (ou será apaixonada?), dizia "eu te amo" com o mesmo valor de "estou cada vez mais apaixonado por você". Era uma "roupa verbal". Usava-as, apenas isto! 


O que devemos perceber é que esses sentimentos são parceiros no jogo da vida. O não-racional e o racional confundem-nos e confundem-se. Isto é "vero"! Se comparado ao extremo, paixão é sentimento humano, que chega a ser desumano, em razão da não razão que lhe é inerente. É misto de ações humanas e animalescas, porque homens (criação) são animais racionais e irracionais. Lembrem-se de que estamos "em evolução"! No "andar da carruagem", são almas que se entregam, e corpos que se desejam. Pura masturbação física e mental. E basta!

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Sendo assim, perdoe-me por me apaixonar por vocês, e muito obrigado a oportunidade oferecida. Como já afirmei, foi bom demais! Um dia os desejei por inteiro, hoje desejo a completude da nossa felicidade. Eu na minha, é claro! E isto não é egoísmo, é pura racionalidade. Já entendi que "amar não é sinônimo de possuir", até porque aquele que faz uso da posse no sentimento não ama, apenas está apaixonado. O sujeito quer ter razão, sem "razão". E isto não pode ser! Ou não deveria...

Em suma, a minha paixão se "masculinizou". E quando a paixão se "masculiniza", o equilíbrio é recuperado. A hipérbole se transforma n'outras figuras, porque  reconhecemos a tênue linha existente entre essa tal paixão e esse tal amor. Portanto, agora, "eu só quero é ser feliz", amar tranquilamente  nas vielas do porvir!


João D'Olyveira

HELEU e o eterno menino


ETERNO MENINO

Sei das marcas da vida
Das idas e vindas
Das ingratidões
Das verdades ocultas
Das noites
Dos motes
Das multas
  Da solidão...

Sei do dito maldito
Das juras e curras
Das maldições
Das falácias amargas
Das tarjas
Das farsas
Das farpas
      Da ingratidão...

Por isso lhe peço
Eterno menino
Se vê o perigo
Sê meu amigo
Não deixe repetir o que me aconteceu...

E por um instante
Como antes
Sê também meu abrigo
E de forma semelhante
Como amantes
Por Deus, continue comigo!

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João D'Olyveira
            

HELEU e o papo de anjo




PAPO DE ANJO

- Quem é você?
- Ninguém.
- Mas todo mundo é alguém...
- Eu não sou ninguém.
- Você ficou incomodado com a pergunta?
- Nada me incomoda, a não ser o acômodo de algumas pessoas...
- Como assim?
- Muitos ainda questionam sobre o outro e tão pouco sabem sobre eles próprios.
- Você pegou pesado. Foi a pergunta que fiz?
- Foi a maneira como me perguntou, o tom...
- Não quis chateá-lo.
- Não me chateei, é que esse costume...
- Qual costume?
- O de questionar o outro a partir do "quem é você".
- Foi mal...
- Foi.
- Posso mandar outra?
- Manda aí!
- O que você faz?
- Ninguém faz nada.
- Todo mundo faz alguma coisa.
- Eu não sou ninguém, portanto nada faço.
- Você é alguém e certamente fez, faz e fará coisas.
- Posso mandar uma agora?
- Pode...
- Por que conversa comigo?
- Porque precisava de alguém.
- Mas... Eu já lhe disse que eu não sou ninguém!
- Tanto é alguém, que parei pra conversar.
- Então...deixei de ser ninguém?
- Você sempre foi alguém e sempre o será!
- Muito obrigado! E quem é você?
- Mandou a segunda, não é?
- Se achar que não deve responder...
- Antes de conhecer você, eu me sentia alguém que se sentia ninguém.
- Você...também...?
- Sim. Eu pensava que era o único ninguém, porém, quando lhe fiz a primeira pergunta...
- Eu lhe respondi que era ninguém.
- Foi aí que percebi que não estava sozinho, que ninguém somado a ninguém poderia resultar em alguma coisa, em alguém...
- Eu lhe respondi "ninguém", porque outros fizeram com que assim me sentisse...
- E agora?
- Agora sou alguém falando com outro alguém?
- E ninguém?
- Ninguém é um ser que não existe! rs
- Precisamos encontrar outros. Há tantos "ninguém" perdidos por aí!
- Vamos buscar esses outros, para que eles se sintam alguém, antes que seja tarde...?
- Booooooooora!!!

João D'Olyveira

"Todos são importantes na grande orquestra de Deus. Não há pequenos, todos são grandes"(I Coríntios 3:9).

HELEU e a mendicância


De grão em grão, degraus!


Em uma dessas calçadas da vida, um mendigo me estendeu uma das mãos e me pediu uma moeda. Minha vontade primeira foi dizer a ele o que sentia naquele momento frente àquela situação. Reservei-me, nada disse e me pus a caminhar.Meus passos, porém, me travaram. Corpo e mente entraram em desacordo. Decidi voltar e lhe dizer do meu sentimento: 

- Você ainda é jovem, forte, inteligente. Será que, ao invés de ficar pedindo "moedinhas", o melhor não seria ter um emprego fixo, um salário?

O mendigo me olhou fixamente, balançou negativamente a cabeça coberta por longa cabeleira, passou os magros e longos dedos morcegamente pelo bigode bicolor, deu um sorriso maroto e me disse:

- Moço, você já se deu conta de que o seu salário é a soma de muitas "moedinhas", e que você nem tem tempo de contá-las, porque elas não param muito tempo nas suas mãos? Já se tocou que, quando tem esse tempo, é porque essas suas "moedinhas" já se tornaram poucas, e você totalmente dependente delas?  Observe bem. Você nem bem as recebe, e elas já têm destino certo.

Fiquei pasmo com aquele discurso mendigal. Quase sem voz e movimento, disse apenas um "não".

Ele continuou:

-  Comigo é diferente, só as recebo. Eu as chamo, e elas me atendem. E olha que, mesmo sem você ter me oferecido uma sequer, posso já as ter recebido pelas mãos de outros. Estou quase acreditando que você é um daqueles que juntam moedas para dar a outros. Esses outros vão somando moedas, e você executando a ação de produzi-las...para eles!

Deu uma gargalhada mortal e concluiu:

-  Pode acreditar, moço, "dinheiro não cria pernas", já nasce com elas. E tem destino certo! 

Ouvir aquilo que ouvi, daquele sujeito, quando, na verdade, eu havia iniciado aquele papo moralista... Não foi fácil!

Distanciei-me com um sorriso encabulado. Ele, porém, me acompanhou com um certeiro olhar de Arquimedes. A única certeza era a de que, naquele momento, não havia estado com um simples mendigo, aquele sujeito era, literalmente,  um credor de reflexões financeiras.

Certamente que o ocorrido não me fez decidir pela mendicância, mas, não nego, me fez refletiralém do que desejava. Cheguei a sentir raiva dele e de mim mesmo. O estilo de vida do sujeito não me atraia, todavia foram seus dizeres econômicos que me fizeram entender a diferença entre um mendigo e um trabalhador. Diferença que não era visual, era "acional"!

Os mendigos escolhem um terreno, ocupam um espaço por um determinado tempo e atraem investidores. Os trabalhadores são selecionados para ocuparem um determinado espaço, por um tempo enganosamente indeterminado. Assinam um contrato de prestação de serviços, registram-se como "servos" daqueles que serão seus "quase donos". No final do mês,  recebem moedas registradas em um contra-cheque, com direito a todos os descontos e a todas as contribuições. Tudo isso,  depois que outros "servos", do Setor de RH, tenham confirmado que o "servo registrado" tenha realmente marcado presença naquela "calçada" denominada empresa.

E foram muitas outras reflexões...

Um dia, ao chegar à minha empresa (quanta ilusão dizer "minha empresa"). Um dia, dei de cara com uma placa pendurada no portão de entrada da empresa na qual sou servidor. A tal placa sempre esteve por lá, porém somente naquele dia dei conta do fato. Na placa, uma mensagem: "Sorria. Você está sendo filmado!"

Olhei fixamente a placa, li e reli os dizeres, conclui. Nosso cotidiano é puro exercício ficcional, e nosso salário é mero cachet. E ainda temos que sorrir!

Ajeitei meu crachá, cumprimentei o "servo da portaria", entrei, arregacei as mangas e dei início à primeira das oito horas que deveria cumprir. Na praça ao lado, o mendigo já contava 12 moedas: 4 de 10 centavos; 5 de 25; 2 de 50 e 1 de 1 real. Para cada um dos passantes, um tom de voz, uma expressão...

João D'Olyveira

HELEU e a possibilidade do amor partidário



eros & psique

PARTIDO LIVRE 

Pra que olhar pra mim com olhos de promessa,
se a verdade é mais simples e eficaz?
Pra que usar comigo de palavras adversas,
se a palavra adeus é a que nos satisfaz?
Pra que me oferecer jantares e presentes,
se a nossa ausência é o que nos marca mais?

E tudo pra quê?
Tente me responder.
Se conseguir, talvez,
eu vote em você...

Pra que fingir pra nós prazeres tão intensos,
se no momento sei já não me engano?
Pra que acreditar que um dia quem sabe,
se no passado nós não nos presenteamos?
Pra que nos enganar de novo por quatro longos anos,
se o melhor pra nós agora é baixar o pano?

E tudo pra quê?
Tente me responder.
Se conseguir, talvez,
eu vote em você...

Pra que tantos pra quês e quês e prantos,
se o encanto nos quebrou e se acabou de vez?
Pra que tantos pra quês e prantos,
se ter você dessa maneira não me encanta mais?
Pra que tantos pra quês e quês e prantos,
se o melhor é nós nos darmos paz... e vez...pros nossos corações...?

E tudo pra quê?
Tente me responder.
Se conseguir, talvez,
eu vote em você...

João D'Olyveira

HELEU e a relação etimológica


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LEI DE MARTINHO

Luiza, Marina, Cibele. Na Lei de Martinho, “de todas as cores, de várias idades, de muitos amores”. Eu as tive comigo, na minha cama. Algumas vezes em dose dupla, e nada sertanejavam. Só pagodeavam. Juntas, geminianamente unidas no coito e separadas somente no pós-orgasmo. Na mesma cama, na mesma catarse. E como ainda fazem os puros esquimós, ríamos muito!

Diferentemente das outras, em uma tarde de inverno, chegou Marisa. Estava meretrizmente enlouquecida. Literalmente puta da vida! Marisa era assim: sentia-se a própria loja. Fazia propaganda de tudo: das pernas, dos seios, do bumbum. Era pra lá de maluca. Negra maluca de dar inveja a qualquer Miss Universo. E era dona de uma senhora bunda. Digna representante da etnia africana: os Kibundas!

O tempo tomou as rédeas e me apresentou Ivone, que se passava por Margarete. Mascava chiclete e fazia bolas enormes. Adorava estourá-las na hora do beijo. Ela se destituía das peças íntimas cantando "Mamãe eu quero". Dava uns berrinhos pra botar a banca, pois adorava comandar a prática sexual. Dizia-se General de Brigada. Na hora "G", gemia alucinadamente. Beijei muito a boca daquela sacana! Depois, cuspia a goma na latrina.

Cristina era enorme, quase dois metros de altura, dançarina de um cabaret de quinta, que não era avenida. Denominava-se bailarina. Até hoje não entendo a diferença entre dançarina e bailarina, talvez seja o espaço da prática metamorfoseada que ocorre quando se balança alucinadamente o corpo. De resto é tudo "quase" igual! Quando transávamos, tínhamos que estar deitados. É sabido que, na horizontal, a viagem é outra, e a altura não atrapalha. Se na vertical, tiraria apenas um sarro com os joelhos da "mere". E quando ela usava saltos? Eu brincava de esconde-esconde entre as pernas da vadia. Era um tal de some e aparece que não acabava mais. Mas era da porra aquela brincadeira! Aquela mina era tudo...

Maria de Fátima ficou na história, ela foi a própria Eva em pacto com a serpente. Danou-me por completo. Disse-me que estava grávida e que eu era o pai. Não nego que, quando a ouvi me dizer aquilo, e da forma que me disse, tremi nas bases. Pai, naquela altura do campeonato, goraria todos os meus planos. Disse a ela, que ela deveria provar. Ela colocou o dedo indicador na minha cara e urrou vacosamente: "Ou assume ou eu sumo com você!". Decidi eu mesmo sumir, e hoje estou aqui nesta cidade. Ela? Sei lá, deve ter morrido! Era alcoólatra, coitada! O filho? Sei não. Ainda tenho dúvidas se ela estava mesmo grávida. Se tivesse, o filho seria do União São Jorge Esporte Clube, ou da Associação Rio das pedras. Filho da mãe sempre será produto coletivo!

Toninha é que era da hora! Feinha, tadinha... Mas já que falei de futebol, vamos somar. Ela batia um bolão da horinha. Ria debochadamente quando dávamos uns pegas. Um dia me disse pra eu tirar as minhas meias. Eu sempre usei meias pra dormir, sinto frio nos pés. Assim, subo na cama, lembro-me das meias, e não as tiro. Se não estou com elas, calço-as. Sou pé frio, mesmo! Ela adorava cruzar os dedos dos pés dela com os dos meus pés. Mania de quem pensa o dia inteiro nessas sacanagens. Dizem que há especialistas em poses sacanas e provocações bizarras. E eu não as nego. Já vi (e fiz) cada uma...

Eu queria mesmo era rangá-la, mas Toninha cismava com posições, estilos, efeitos. Praticava ioga, a fdp. Certa vez me disse que queria transar no lustre. Pode? Lustre não. Disse que preferia a cama. Daí ela insistiu que fosse embaixo da cama. E foi! Como foi embaixo, transei sem as meias. Outra vez a danadinha encostou-se na porta do quarto de um hotel, e ficou de braços e pernas abertas. Passou a linguona nos beiços, arregalou aqueles olhões de vamp e disse que eu deveria tomar impulso e atacá-la. Como nunca havia recusado nenhum dos pedidos dela, fui. Me senti a própria anta. Dei uma ajeitada no corpo, abri caminho, mirei e ploft! Quando o meu "sem vergonha" se encaixou na "sem vergonha" dela, ela gritou desesperadamente. É que a maçaneta da porta quis também tirar uma casquinha. E tirou! O meu "sem vergonha" em um dos buracos, e a maçaneta no outro. Que fique registrado. Quando transo na cama, não tiro as meias, entendo-as como camisinhas de pés que se sentem mamíferos de carapaça.

Gorete foi legal comigo até o dia que apareceu o Juvenal. O cara era gente boa e tinha pinta de bacana. Trabalhava em uma agência de seguros. Dizia ela que ele segurava bem pacas! Quando o cara decidiu ficar, ela me deixou de vez. Digo "de vez", porque foram várias tentativas de abandono. Da última, antes do Juvenal, ela ficou três dias fora da cidade, e fora de órbita. Bebeu todas e algumas a mais. Uma vez bêbada, a extremista quis dançar a "dança da garrafa". Escorregou, sentou na garrafa, encaixou. Na pressão, a garrafa perdeu o fundilho. Era o fundilho dela contra o fundilho da garrafa. A garrafa perdeu. Fomos ao pronto-socorro local pra desengarrafar o da Gorete. O fundilho dela fez 12 pontos! Gorete era quente pra caramba...

Florinda, na verdade, se chamava Suzana da Silva Mourão. Só o sobrenome já era provocativo. Mas a Flô já havia sido Dolores Cotonete. Se não me engano, um dia se disse Imaculada da Conceição. Eu aceitei apenas a Conceição. Em uma ocasião me levou pra Maceió. Ficamos na casa do irmão dela. Caminhávamos pela Jatiúca quase todos os dias, e por lá rala-rolávamos todas as noites. E de manhã também. Às tardes não poderia ser diferente. Mudávamos apenas os espaços, era na Cruz das Almas, na Ponta Verde, na Pajuçara. E quando cansávamos, transávamos pra descansar. Variávamos a posição. O irmão me perguntou se não sabíamos fazer outra coisa. Disse a ele que outra coisa não, só de outra maneira. Naquele mesmo dia estávamos nós quatro: eu, a Flor, o irmão dela e a cunhada. "Impura" troca de casais. Swing turístico! E não me venha com essa de que eles eram irmãos. Na hora ninguém se lembrou disso. No momento de carícias íntimas, eu a chamava de "Florzinha". E não é que ela acreditava? Guerreira aquela garota...

E tive outras! Madalena (que não era arrependida), Magali Sarraipo, Evinha Pintassilgo, Rita Fusquinha, Vilma Fred das Pedras e Rosilda Samambaia. Mesmo capenga, nesses rolês que a gente dá por aí, conheci umas carnes novas. Nova na embalagem! Por fim, farinha do mesmo saco, alimento pros mesmos cacetes desnaturados! Mudam só o pseudo. É "Pri" de princesa, "Ma" de maleável, "Pat" de patifaria. Tem umas que se dizem "Fa de família", e se casam em igrejas enfeitadas com flores brancas, e têm direito à festa de arregalar os olhos de qualquer pobre cristão. Elas apenas encurtam os nomes, de resto a reza é a mesma. Preferem as ladainhas masculinas. A molecadadinha é que tira proveito dessas pirralhas. Não nego, sinto falta! Dá uma vontade...

Hoje estou mais acomodado. Aliás, acomodadíssimo, diria José Dias! Assisto à TV, independentemente do canal e da programação. De madrugada valem até os evangélicos, que prometem salvação a custo de um carnezinho. E não é que eu estou quase aderindo ao pecúlio gospel? Nessas programações, gosto de quase tudo e me interesso por quase nada. Cansou, teclo o próximo. "Leio o jornal que é de ontem, pois pra mim tanto faz", igual ao Biquini Cavadão. Tomo suco de maracujá, pra alcalmar a cabeça e a cabeça da genitália. E devoro chocolate. Como eu como chocolate! Só dispenso Garoto. Mas, masco torresmos também, sem dó nem piedade. Afinal, já comi muita carne dura e gorda na vida!

Meus pés estão inchados, arregaçam com as minhas meias, que nunca foram inteiras. No modo vivente que estou já adquiri varizes e varicoceles, aos montes. Minha barriga já cresceu 25 cm. E o pior é que só a barriga cresce!
Marcos me ligou, disse que eu devo sair um pouco, tomar sol. Fabiano insistiu pra eu ir com ele e a família (dele) pra roça. Eu preferi ficar por aqui. Gosto do meu cantinho, do meu sofá, da minha TV, da minha próstata inchada. Tomo vodka e cerveja, fumo pra cacete! Vez ou outra ligo pro Vicentini, pro Silvião, pro Morgadinho. E fico contando minhas aventuras amorosas e trepadeiras, e todas na hipérbole. Homem adora dobrar o Cabo da Boa Esperança na hora que fala de mulher. Na verdade, é a esperança de subir o cabo que motiva essas narrativas. Mas... Fazer o quê?
As mulheres se foram, meu bilau também já está quase de partida. E triste, o coitado. Ta se sentindo tão cabisbaixo ultimamente... A cada dia que passa, o Ricardo Asdrubal (é o nome dele) fica mais distante dos meus olhos. E nessa cena cotidiana, já posso afirmar que estou literalmente prostado! Se é assim, hoje confesso o meu saber: "Todo homem um dia terá problemas de próstata!"

Porém, contudo e todavia, alguém muito especial me ensinou a desistir só na hora de desistir, e ainda não é a hora. Sendo assim, lá vou eu, martinhizando por aí... "Procurei, em todas as mulheres a felicidade, mas eu não encontrei, e fiquei na saudade. Foi começando bem, mas tudo teve um fim..."

João D'Olyveira


"Há realmente uma relação etimológica entre próstata e prostituta, porque ambas as palavras (a primeira é grego que passou ao latim, e a segunda é só latina) remontam ao mesmo sufixo e ao mesmo radical do indo-europeu.

Vejamos, em primeiro lugar, a etimologia de cada palavra.

Próstata
«[do] lat[im] cien[tífico] prostata 'id.', empr[és]t[imo] gr. prostátēs,ou 'colocado na frente de; donde, chefe, dirigente; protetor, defensor', do v[erbi] proístēmi 'colocar na frente, pôr em relevo, pôr em evidência'; de pró- 'diante, na frente' + hístēmi 'colocar'; assim chamada por situar-se antes da bexiga»

Prostituta
«lat[im] prostitŭo,is,ī,ūtum,ĕre 'colocar diante, expor, apresentar à vista; pôr à venda; mercadejar com a sua eloqüência; prostituir, divulgar, publicar', de pro- 'na frente, diante de' + statuĕre 'pôr, colocar, estabelecer; expor aos olhos', de stātus,us 'repouso, imobilidade; atitude, postura (de um combatente); assento, situação; estado das coisas, modo de ser', do rad[ical] de stātum, sup[i]n[o] de stāre 'estar'»

Por essas e outras, sua existência só acontece em razão do seu masculino!

João D'Olyveira

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