FELICIDADE, eu ainda acredito...
Disse para meus botões:
"Brotem!"
Eles não brotaram,
insistiram em ficar nas casinhas.
Achei aquela atitude provocativa,
insisti também.
Disse ironicamente:
"Vocês não são botões...? Brotem!"
Eles me responderam em coro:
"Somos!"
"E por que não brotam?".
Um a um, eles foram se soltando de suas linhas,
e escorregaram sobre aquele velho tecido,
que jaz cobria aquele meu corpo também velho...
A cada um que deslizava,
feito personagem de um navio fílmico,
eu gritava:
"Pra onde você vai?".
Já não sabia se gritava com eles
ou para eles.
Apenas gritava...
E eles estavam mudos,
porque eu os havia emudecido.
Eles apenas caiam...
Um a um foram se entregando ao nada,
e se espalhando sobre o piso de madeira...
Olhando aqueles frágeis corpos desalinhados,
num misto de tudo e nada,
de quase tudo em nada,
porque confuso estava,
indaguei-os melodramaticamente:
"Por que caíram, botões malditos?! Falem!!".
Um deles, apenas um,
no golfo final,
respondeu-me:
"Queriamos brotar, mas...
"Mas, o quê?!"
"Nossas linhas,
que são nossas artérias,
se arrebentaram..."
"Sim, mas... por que não brotaram?"
"Porque não somos botões que brotam..."
E continuou:
“...cada um tem função própria.
Eu sou um botão que fecha,
uma das minhas missões era omitir suas verdades físicas..."
E declarou:
"Nós não brotamos.”
E ainda fez um paralelo:
"Nós não abrimos, fechamos!".
E concluiu:
“Brotar é para as flores...”
Dizendo isto,
caiu de vez.
Olhei para os outros, todos mortos.
E foi ali, entre mortos, ferido,
que aprendi mais uma das tantas e necessárias lições:
"Quer matar alguém?”
É fácil...
“Exija que esse alguém seja o que ele não é".
Pronto, está dada a receita!
Agora preciso dormir,
o sono está me dominando,
acho que vou cair...
Mas antes,
quero lhe agradecer:
“Muito obrigdo,
por me deixar ficar em casa.”
Hoje pensei em você, apenas pensei...
João D’Olyveira
“O pensamento
parece uma coisa à toa,
mas como é que a gente voa,
quando começa a pensar...”
(Caetano Veloso)